Mais de 4 mil candidatos às próximas eleições estão impugnados em todo o país. A maioria por rejeição de contas de gestões anteriores, falta de certidões de regularidade exigidas pela Justiça Eleitoral, e 497 atingidos pela Lei da Ficha Limpa, que impede a candidatura dos condenados em segunda instância. O maior número de impugnados (2058) está em São Paulo, seguido de Minas Gerais, com 1308. Nomes de alta projeção política fazem parte da relação de impedidos e agora lutam nos tribunais em busca da continuidade de suas carreiras. Historicamente, a figura do político é desgastada. Verdade ou não, costuma-se atribuir-lhes corrupção e outros maus hábitos no trato da coisa pública. Mas, o poder dos cargos e os recursos que permitem pagar bons e caros advogados, sempre os manteve, apesar das implicações. As manobras protelatórias, o corporativismo e o instituto da prescrição, tornaram a impunidade uma constante nacional. As crises se sucedem, produzem os efeitos imediatos e, passado o momento, os envolvidos se confraternizam. Chegamos ao cúmulo da leviandade, onde políticos com a pecha de corruptos acabaram, em diferentes oportunidades, beneficiados pela máxima de que “roubam mas fazem”. Os próprios políticos contribuem com essa desconstrução da imagem da classe quando, para vencerem os adversários, lançam boatos e até acusações. Não foram poucas as vezes em que se descobriu esquemas, dossiês e centrais de boatos montados para desconstruir o adversário, e nada aconteceu aos propagadores das mentiras. A cada acontecimento dessa ordem, sobra ao povo a sensação de que nenhum político presta. A Lei nº 135/10, que difere entre político de ficha limpa e de ficha suja, elaborada por iniciativa popular, apesar de todas as atenuantes aplicadas pelos congressistas quando foram compelidos a aprová-la, está finalmente dando ao eleitor a esperança de que os autores de atos de corrupção ou irregularidades administrativas serão banidos da vida pública. Vivemos hoje o momento crucial de sua aplicação. Os contumazes denunciados mais uma vez procuram brechas, fendas e caminhos que possam mantê-los impunes. Se conseguirem, restará a amarga certeza de que a lei não “pegou” e a moralização do meio político-administrativo está mais distante do que imaginamos. Tudo não terá passado de um sonho... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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