Durante quatro anos procuramos o melhor para as escolas. Estimulamos ambientes cooperativos, pluralistas, respeitadores de opiniões e sensíveis aos anseios da Rede Educacional. Dessa troca de idéias e ideais surgiu o pedido de muro de palitos construído com tubos PVC multicoloridos para identificar as escolas de educação infantil - EMEIs. Foi um pedido de grupo de professores que além da idéia doaram também os tubos. Experimentado com sucesso e com grande aceitação das escolas e da comunidade foi implantado nas escolas de educação infantil que eram reformadas. Posteriormente foi sugerido, também pelas comunidades escolares, que, onde fosse possível, se colocasse um portal que identificasse as escolas de forma estética, alegre e agradável à vista. O primeiro a ser implantado foi na EMEI Bessie Ferreira Osório de Oliveira, no bairro do Itaguá. De novo a aceitação foi grande e as comunidades escolares passaram a os solicitar para suas escolas. Além do Itaguá quatro foram construídos. Neles não existem referências a pessoas ou tendências políticas. A preocupação era educacional e estética. As crianças gostam que sua escola seja bonita, colorida, agradável, atraente e confortável. Crianças e adultos elogiaram os novos visuais de suas escolas. Essas ações visavam atender as exigências da Lei nº 2124 - 2001 que criou o Sistema Municipal de Ensino e que, no seu Artigo 13 fala do atendimento em prédios separados a cada nível de ensino e da necessidade de padronizar as escolas, a serem construídas, criando ambientes espaçosos e confortáveis. Nossa compreensão das fraquezas humanas e da falta de pluralidade em alguns espíritos estava aceitando, com naturalidade, que, mesmo não sendo prioritário e tendo graves problemas a resolver, estivessem apagando, com celeridade, logotipos da administração anterior, de prédios e veículos. O logotipo da educação exibia uma criança sorrindo e nos parece natural a sua supressão em conceituação filosófica que parece não dar importância ao sorriso e a criar ambientes que façam crianças e adultos sorrirem. Dia 07-04-05 recebi visitas que me comunicaram o fato de terem decapitado dois portais, nas EMEIs Nativa Fernandes Faria, no Sertão da Quina e no Saco da Ribeira. Manifestaram ambiente de revolta, entre vários funcionários, com o acontecido e que, o fato de decapitar os portais retirando os arcos que os encimavam e deixá-los feios e chatos, poderia ser indicativo. Fui conferir a veracidade do fato comunicado. Era verdade. Os portais ficaram horríveis e foi cometido um atentado ao patrimônio público que, existindo dignidade, deveria ser reparado colocando os arcos no lugar onde se encontravam e pagando os custos do material e mão de obra por quem deu tão absurda ordem. Não é fácil entender esse espírito destruidor e muito menos as razões alegadas aos funcionários. O que está instalado e enfeitando um prédio público não pode ser cortado e jogado para apodrecer nos galpões da antiga ELEKTRO. Não se apaga o passado com esses procedimentos. Os procedimentos obtusos acabam ressaltando outros mais generosos do passado. Neste momento histórico de convergência de culturas, religiões, ideologias políticas, econômicas e sociais para homenagear um líder mundial que pregou a paz, a harmonia, o respeito intercultural, autodeterminação dos povos, a ética e a moral, na vida individual e na vida social, não seria demais solicitar dos administradores municipais abrirem seu espírito ao pluralismo e ao respeito ao passado. Viver encastelados em células, tabernáculos, ágapes, tendas e decidir os processos administrativos nesses ambientes leva ao obscurantismo, ao fanatismo, ao empobrecimento do espírito e a todo tipo de injustiças e discriminações, além de ofender os artigos l9 e 37 da Constituição Federal. Vincular a administração pública a guetos de minorias sociais de cunho religioso sempre foi nocivo à sociedade e já ocasionou grandes catástrofes e terríveis guerras. No Brasil os cidadãos e, principalmente, aqueles que foram levados a cargos de fiscalização não podem esquecer que "a administração pública obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência" e que é vedado ao poder público "manter cultos religiosos e, com seus representantes, relações de dependência e aliança". Está na hora da sociedade atentar para o fenômeno que está acontecendo em Ubatuba. Não é só na educação. Nota do Editor: Corsino Aliste Mezquita, ex-secretário de Educação de Ubatuba.
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