Não esqueço quando, na escola, iniciou-se em mim a ideia do que fosse “sete de setembro”. A algazarra começava quando éramos liberados das aulas para a instrução do Cabo Totô, militar do Tiro de Guerra, que amava a farda, a corneta e todos os toques na memória; seu grito “atenção! sentido!” punha ordem na meninada. Sabia como ninguém organizar desfile para ganhar o primeiro lugar no Dia da Independência. As alunas se empinavam à escolha do porta-bandeira, e a mais roliça, para ser “baliza”, marchando com dança e saltos ornamentais. O Colégio Nossa Senhora da Conceição ainda não possuía uma banda marcial, mas rapazolas da Escola de Samba de Zé Dudu emprestavam à Madre Freitas instrumentos do seu último carnaval e, como tropa do Cabo Totô, obedeciam à sua regência, e nós, o seu comando. Tais ensaios aumentavam a importância do Sete de Setembro que trazia à Itabaiana diferentes roupas e coisas fora da rotina. Mas, pouco se ensinava sobre a festejada independência... Aos onze anos, em 1958, já no internato, na Capital, comecei a escutar que nossa “independência” não teria sido conquistada com muito esforço; fora as histórias jocosas, contava-se que “bastou parar os cavalos às margens do Ipiranga e jogar fora uns laços com cores de Portugal”. Disso também se concluía que nem sempre esforço empreende o bem, e lá vinha o exemplo de quem, com muito esforço, nas caladas da noite, arromba um cofre com maçarico, ou quem, sem muito esforço, furta o dinheiro público; mas mesmo assim, conseguem eleitores para continuar censurável proeza. Enfim, deu-se o grito de independência de Portugal onde também “setembrinos” comemoram a revolução de setembro de 1836 contra a então “Carta Constitucional”. Data por data, diz Fernando, seu pai, existir maior setembrismo na minha sobrinha Raïssa que nasceu às sete horas de sete de setembro de 1970... É preciso que se avise aos brasileiros que já são independentes... De Portugal? Não. Hoje, aqui mesmo, necessita-se de independência do voto para escolher o melhor parlamentar, governante ou homem público e um Brasil bom de viver... Ser independente dos que querem comprar voto; dos enganadores e maus políticos, cabos eleitorais negociantes, traficantes e vendedores do seu voto em lote; também livrar-se da troca do bem coletivo por pequenos e insignificantes favores pessoais. Quando, às margens da eleição, houver civismo, cidadania, demonstraremos o grito dessa desejável independência.
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