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Opinião
12/04/2005 - 06h07
Apenas demagogia, ou traição?
José Magalhães de Souza - MSM
 

Em 19 de dezembro de 2004 Jarbas Passarinho, Coronel Reformado do Exército Brasileiro, publicou na Folha de São Paulo um artigo intitulado Apogeu e Declínio do Ciclo Militar, onde propõe-se a explicar porque "tudo de bom que os militares fizeram pelo Brasil foi posto a perder" (sic).

Embora eivado de afirmações despropositadas e tendenciosas, o artigo foi bem recebido por muitos militares desavisados - simplesmente, acredito, pelo respeito à imagem do articulista e porque menciona algumas das realizações dos governos militares. Tão bem recebido, aliás, que foi reproduzido na Revista do Clube Militar de março/abril de 2005.

Contudo, tal texto, submetido a uma apreciação minimamente cautelosa, revela-se verdadeira afronta aos militares e civis que participaram do movimento popular que depôs João Goulart e que impediram, em 1964 e nos anos que se sucederam, a tomada do governo pelos comunistas.

Tudo de bom foi posto a perder

Para concluir que "tudo de bom" foi posto a perder "pela demora da devolução do poder aos civis" e "pela prática da tortura na repressão", o articulista utiliza-se de meias-verdades, de acusações genéricas e infundadas a seus companheiros de caserna, além de endossar alguns dos chavões e palavras-de-ordem que foram e, até hoje vêm sendo usados, para denegrir a imagem dos militares perante a opinião pública, quais sejam: golpe preventivo, hediondez das torturas, deformações dos que esqueceram a convenção de Genebra, censura, devolução do poder aos civis, governos dos generais, crueldades e atrocidades praticadas, encarregados de IPM e censores inteiramente despreparados, sucessivos erros praticados no ciclo militar etc.

Mais ainda, é flagrante a inconsistência de vários de seus argumentos que, se assim não fosse, se verdadeiros, em última instância, apontariam para sua própria parcela de responsabilidade naquilo que ele assinala negativamente nos governos militares - pois foi ministro de dois governos militares.

A tortura

A tortura, cuja "prática hedionda nos governos militares" endossa o Coronel Jarbas Passarinho (para regozijo dos comunistas derrotados), na realidade, em termos significativos nunca existiu! É possível que, nos primeiros momentos após suas capturas (normalmente em tiroteios, de armas na mão), alguns terroristas altamente perigosos, assassinos, assaltantes de banco e seqüestradores, tenham sido tratados com razoável grau de violência - não para confessarem atos que não cometeram, ou para que mudassem sua ideologia, mas para informarem, com a urgência que se fazia necessária, os locais de homizio de seus cúmplices assassinos, para revelarem o esconderijo de armas e munições que seriam utilizadas em novos crimes e atentados, bem como a estrutura de sustentação e apoio de suas células terroristas. Nada, porém, comparável à prática dos comunistas em situações semelhantes, quando a execução sumária se constituía em ação natural conseqüente da técnica de suas operações.

Não teriam sido, nem foram, atrocidades, como quer caracterizar o autor do texto mas, ao contrário, teriam possibilitado impedir que muitas atrocidades fossem cometidas por terroristas - e talvez tenham contribuído significativamente para a vitória sobre a guerrilha urbana e rural.

Falar genericamente em "deformações dos que esqueceram a Convenção de Genebra, aprendida nas escolas militares", é ofensa covarde e inadmissível àqueles que arriscaram suas vidas combatendo o terrorismo urbano, assim como ofender gratuitamente tropas de elite de uma nação amiga questiona o senso crítico do autor e, afastada a hipótese de traição intencional aos companheiros de farda, constituiria indício de senilidade.

É muito fácil falar genericamente e deixar acusações pendentes sobre toda uma classe, principalmente quando tais acusações, forjadas no desespero daqueles que buscavam justificativas para a derrota sofrida, de longo tempo vêm sendo ecoadas diariamente por uma imprensa tendenciosa e comprometida. É fácil, repito, mas não é digno de alguém da estatura do articulista.

A perda do apoio da imprensa

Dizer que "perdemos o apoio da imprensa quando lhe foi imposta a censura" é manipular palavras para distorcer fatos, é atribuir à imprensa uma imparcialidade ideológica que ela nunca teve, é, no mínimo, candidez e, em última instância, pura demagogia. Dizer que "liberdade é para a imprensa o mesmo que o oxigênio é para a vida" é lugar-tão-comum, que nem demagogos históricos a empregariam para cair nas boas graças da mídia. A censura a que se refere o articulista constituía-se, unicamente, no trabalho de impedir que simpatizantes esquerdistas, infiltrados na imprensa, favorecessem o terrorismo e divulgassem o proselitismo dos insatisfeitos com a derrota comunista.

Os "censores despreparados" eram oficiais superiores das Forças Armadas, Delegados de Polícia, Bacharéis e outros profissionais de nível superior. É a eles que se refere Jarbas Passarinho como "incapazes de distinguir uma notícia de um recado para a guerrilha"? Não acredito! Mas, então, a quem se refere?

A perda do apoio da igreja

Quanto aos "encarregados de IPM inteiramente despreparados", porque "indiciaram padres e bispos como favoráveis à guerrilha, quando só os frades dominicanos deveriam tê-lo sido, pois apenas eles tinham codinomes, agindo na clandestinidade na luta armada", isto constitui argumento pífio que caracteriza inteiro despreparo, não dos encarregados de IPM (oficiais que tiveram a mesma formação de Jarbas Passarinho) mas, data venia, do autor do texto. Como muito bem disse Montaigne, "todos estão sujeitos a dizer tolices; o mal está em as enunciar com pretensão".

A demarcação das terras Ianomanis (ou Ianomâmis)

Quando fala em tudo de bom que os militares fizeram pelo Brasil, que foi posto a perder "pela demora de devolução do poder aos civis e pela prática da tortura na repressão" (sic), o texto do ex-ministro deixa de mencionar a ocupação física da Amazônia, a construção da Transamazônica e suas vicinais, o projeto Carajás e tantas outras medidas concretas tomadas com o propósito de assegurar nossa soberania sobre aquela região.

Por que terá sido? Terá sido porque ele, como ministro de Collor (o governo mais corrupto que esse país já possuiu), teve significativa responsabilidade na malfadada demarcação das terras Ianomanis (94 mil quilômetros quadrados, do tamanho do Estado de Santa Catarina, com apenas cinco mil índios) que hoje possibilita, aos que têm pretensões sobre a área, reconhecerem a existência de uma "Nação Ianomani" encravada na Amazônia?

Será que essa demarcação não colocou a perder muito do que os militares fizeram para assegurar nossa soberania territorial?

Profetas do passado

Triste a figura do "profeta do passado", cujo time tem sido engrossado por personalidades das quais você jamais poderia esperar tal comportamento. Esgrimindo palavras, dando ressonância a bordões e palavras-de-ordem da esquerdalha, buscam eximir-se da responsabilidade sobre fatos ocorridos sob circunstâncias especiais. Ao invés de exibirem e assumirem orgulhosamente seu passado de lutas pelo bem da Pátria, desmerecem-se e denigrem a imagem de seus antigos companheiros. Ao invés de emprestarem suas inteligências ao trabalho de esclarecimento da sociedade, na árdua luta de impedir seja a História reescrita pelos vencidos, vêm a eles fornecer argumentos para sustentar suas mentiras.

Infelizmente, a matéria desse velho soldado favorece aos interesses e intenções da corja que nos deprecia, desmoraliza e ofende. Não poderia deixar de contestá-la, com veemência e indignação.


Nota do Editor: José Magalhães de Souza é Coronel da Reserva do Exército Brasileiro.

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