Além da região metropolitana de São Paulo, dezenas de outros municípios sofrem com a falta de água para o abastecimento público. Suas represas e mananciais estão baixos em razão da estiagem prolongada e, principalmente, da falta de políticas eficientes de administração e sustentabilidade. A partir do momento em que montaram serviço próprio ou autorizaram terceiros a explorarem os sistemas de água e esgoto, os Municípios, os Estados e a União assumiram, como poder concedente, a obrigação de fornecer água e dar uma destinação aos dejetos da população. Mas, apesar de todo o ativismo ambiental, dos discursos demagógicos e oportunistas e até das legislações desenvolvidas, o setor sempre foi negligenciado. A água é encarada com algo infinito (quando não é) e os esgotos jogados nos rios, onde poluem a fonte de abastecimento. Durante décadas a exploração foi predatória. Só nos anos 50/60 do século passado é que começou o controle mais efetivo. Mas, mesmo assim, as grandes transformações político-institucionais por que o país passou impediram a continuidade dos programas. O Planasa (Plano Nacional de Saneamento), de 1969, que criou as companhias estaduais de saneamento, foi relegado. Municípios que, na época não aderiram ao sistema estadual, hoje têm seus sistemas de água e esgoto em crise. Companhias estaduais, mal administradas, também têm problemas. Mas, mesmo assim, tivemos avanços, especialmente no tocante às exigências de tratamento dos esgotos, inicialmente lançados “in natura” nos rios e mares. Apesar dessa obrigação governamental de dar água e saneamento à população, o IBGE revela que um terço da população brasileira ainda não tem acesso a esses serviços. E a parte que tem, desfruta de sistemas ineficientes e age irresponsavelmente. É grande o percentual da água captada e tratada que se perde nos vazamentos das obsoletas redes distribuidoras. O consumidor, embora pague pelo que consome, usa o líquido de forma irresponsável, pouco se importando se vai faltar aos demais. Apesar da existência de competentes serviços de meteorologia e previsão do tempo, que pode prever a ocorrência de estiagens com boa antecedência, os responsáveis pela política do setor não os utilizam como deveriam. A crise que hoje se vive no abastecimento é resultado da falta de planejamento, investimento e gestão. O verdadeiro administrador é aquele que não deixa a represa secar para depois tomar providências. Ele precisa ficar atento para buscar novas fontes e soluções antes que a crise se instale... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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