Em dois terços das 27 unidades federativas – estados e distrito federal – os favoritos na eleição de governador são candidatos à reeleição e a maioria deles representam as oligarquias da política local e regional. Essa constatação sugere que o descontentamento popular não é tão grande quanto se diz. Quem está descontente não reelege. Pelo menos é assim que deveria ser. Ou, então, a população é realmente alienada e, numa análise mais profunda, não está preparada para exercer o direito de voto que, na nossa legislação, não e um direito, mas uma obrigação, pois quem não comparece para votar é obrigado a pagar multa. Desde as manifestações populares, ardilosamente assumidas por políticos interesseiros, contestadores sociais e criminosos comuns, vivemos em clima de sinistrose. Segmentos são levados a promover manifestações pelos mais diversos motivos, vandaliza-se propriedades e incendia-se veículos por razões das mais variadas. E as autoridades, impotentes, nada (ou quase nada) fazem para estancar a onda. As campanhas eleitorais, oportunistas, inflaram com as cores do marketing, esses mesmos temas, com os quais os candidatos buscam ganhar votos. A aparência que temos é de um país em total desordem. Será? O surgimento dos escândalos da Petrobras, da lavagem de dinheiro de diferentes fontes e até os mensalões – o petista já julgado e o tucano ainda impune – transformaram-se, perigosamente, em combustível de campanha. O marketing dos partidos e candidatos vende ao povo a imagem de santos e demônios para o mesmo personagem, de acordo com o interesse de quem paga o serviço. Agora surge, com todo vigor, o instituto da delação premiada. Criminosos de colarinho branco já conhecidos e pilhados, buscam o benefício da redução de pena e, com isso, apresentam os nomes de seus comparsas e facilitadores, muitos deles figurões do governo e da política. E tudo isso vira escândalo. É preciso ver o que será feito dessa imensa massa de denúncias, depois das eleições. É preciso apurar tudo até o fim. Não pode, passado o interesse eleitoreiro, tudo ser varrido para baixo do tapete. Infelizmente, vivemos uma campanha eleitoral enfadonha e desleal. Em vez de propostas, ocorre a troca de insultos e ofensas. Pelo resultado das pesquisas nos estados, o povo parece não concordar com esse mar de lama. É preciso ouvir a voz das ruas. Ou, então, a democracia, simplesmente, não existe... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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