Entra em operação, em Alagoas, a primeira usina brasileira produtora de etanol de segunda geração. Trata-se de um álcool com as mesmas características daquele que hoje abastecemos nas bombas de combustíveis, porém mais limpo, elaborado a partir da palha e do bagaço da cana e com a previsão de, em breve, custar 20% menos. É, sem dúvida, uma atraente alternativa, principalmente se levarmos em consideração que palha e bagaço hoje constituem o lixo das usinas, onde formam grandes e problemáticas montanhas inservíveis. Melhor ainda saber que o processo poderá proporcionar o aumento de 50% na produção de etanol sem a ampliação das áreas plantadas com cana. Desde a época do “Ford Bigode”, o nosso país trabalha no desenvolvimento do álcool como combustível automotivo. Utilizou-o emergencialmente para misturar e até substituir a gasolina importada, que era escassa, no decorrer da 2ª Guerra Mundial. A partir dos anos 70, desenvolveu o Proálcool, que naufragou e só ganhou novo fôlego com o surgimento dos veículos “flex”. Ainda hoje, o setor está em crise e não se duvida da possibilidade de desabastecimento, pois muitos produtores fecharam seus negócios. Aquilo que nos foi apresentado como solução energética e ecológica, ainda traz muitas interrogações. Enganam-se os que pensam que a descoberta de petróleo – que tem sustentado a propaganda governamental dos últimos anos e até ensejado os escândalos na Petrobras – invalida o etanol. O que nos falta é uma política de regulação séria e continuada para o setor energético, que não enriqueça ninguém da noite para o dia mas também não inviabilize os negócios regularmente estabelecidos. Ainda que não utilizado puro, o etanol é importante componente da gasolina que, antes de receber sua mistura, era aditivada com chumbo tetraetila e causava poluição. Por razões ambientais, o mundo tende a consumir tanto etanol quanto petróleo. Se pudermos aumentar em 50% a nossa produção sem ampliar a lavoura, será um grande negócio. Mas precisamos de estabilidade para o setor pois, sem isso, apesar de todas as potencialidades e recursos favoráveis, continuaremos sempre como o país do futuro, sem conseguir ter no presente os benefícios sonhados. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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