Os holofotes estão voltados para as eleições – de presidente, governador, senador e deputados (federais e estaduais) – que acontecerão no próximo final de semana. Mas, o grande acontecimento dos próximos dias, poderá ser o depoimento do doleiro que, preso por lavar dinheiro da corrupção, decidiu entregar à Justiça os nomes dos seus clientes e companheiros de empreitada criminosa. Seu comparsa, ex-diretor da Petrobras, já declinou dezenas de nomes e, por isso, deve conquistar, nas próximas horas, a prisão domiciliar. O mesmo é esperado pelo doleiro, que tem tradição em obter vantagens ao entregar seus companheiros de crime. Já o fez no rumoroso caso do Banestado, do Paraná. Espera-se que, para o bem do país, essa crônica policial não interfira no resultado das eleições. Mais que isso, é fundamental que todos os envolvidos pelos delatores – pessoas físicas e jurídicas – sejam rigorosamente investigados (para comprovar a veracidade das delações) e exemplarmente punidos pelos crimes cometidos. Não podem ficar impunes ou simplesmente serem canalizados para o esquecimento os fatos que enlameiam a Petrobras, emporcalham o sistema de trens e outros transportes e ameaçam colapsar a economia nacional. Todos os praticantes de crime ou inconformidade têm de ser chamados à responsabilidade, respondendo conforme a sua participação delituosa. É arraigada na consciência nacional a idéia de que há muita corrupção e impunidade entre os poderosos. Todos nós, brasileiros, ouvimos, ao longo da vida, as estórias de falcatruas e de falta de apuração. Muitos dos políticos que vimos fazer carreira, o fizeram denunciando malfeitos de seus adversários e, pelo menos boa parte deles, quando chegaram ao poder, fizeram o mesmo, ou até pior, do que criticavam. Nos tempos recentes temos os casos pontuais do mensalão petista, com vários figurões presos, e do foro trabalhista de São Paulo, que resultou nas prisões do ex-juiz Lalau e do ex-senador Luiz Estevão, recolhido na semana passada. Mas ainda é muito pouco diante de toda a lama que tem rolado dos escaninhos do poder. Ainda existem muitos políticos, parlamentares, executivos, altos servidores e outros colarinhos-brancos impunes. Independente de quem venha a vencer nas eleições, espera-se que a Justiça tenha condições, meios e liberdade para apurar, processar e punir todos os malfeitores que têm manchado a imagem do país e da administração pública e, principalmente, roubado o dinheiro que deveria ser empregado na saúde, educação e no bem-estar da população... Em tempo: quanto aos delatores, que tenham alguma vantagem nas penas por terem revelado os nomes dos comparsas. Mas nem por isso devem ficar impunes... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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