O Ministério da Educação (MEC) autorizou, no início de setembro, a abertura de mais algumas dezenas de faculdades de medicina. Assim, desde então, 39 municípios estão liberados para criar cursos médicos; 14 deles em nosso estado, São Paulo. Outras sete cidades também receberam aval para ter suas próprias escolas de medicina, desde que obedeçam a pequenas adequações solicitadas pelo MEC. Em agosto último, o governo Dilma Rousseff havia alcançado um recorde jamais visto na história desse país. Em 44 meses de mandato, já autorizara o funcionamento de 62 novas faculdades médicas. O Brasil, do ano 2000 até agora, abriu 136 cursos de medicina. Para pensar: hoje, temos 242 escolas médicas. Mais da metade nasceram nos últimos quinze anos; as demais nos cinco séculos anteriores de história do Brasil. Óbvio que isso não é nenhum indicador de avanço social. Para ter uma ideia, a China, com 1,4 bilhão de habitantes, possui 150 faculdades de medicina e os Estados Unidos, com cerca de 350 milhões de cidadãos, tem 141. Não é a quantidade de graduados que implica em avanço dos indicadores de saúde, e sim a qualidade. Fato é que estamos formando cada vez mais e cada vez pior. Pudera, a maior parte das novas escolas não contam com hospital para treinamento, não existem preceptores qualificados para fazer frente a demanda de novas vagas, as grades pedagógicas estão ultrapassadas e os empresários do ensino não mostram o menor compromisso com o social. Ao contrário, os olhos deles só veem cifrões. Como as autoridades fazem vistas grossas a tais descalabros, o nível dos novos médicos cai vertiginosamente ano a ano. Em 2013, no Exame do Cremesp, 59,2% dos recém-formados em escolas médicas de São Paulo não atingiram a nota mínima para aprovação. Ou seja, não conseguiram responder corretamente a 60% dos testes propostos. A fragilidade da formação tem reflexo direto no crescimento de denúncias de erros médicos. Também é eminente aumento de risco à saúde e à vida dos pacientes. Bom lembrar aqui que todos somos pacientes. Registro que em breve teremos mais uma prova inequívoca do desserviço que a falta de uma política responsável para a educação de medicina presta ao Brasil. Em 19 de outubro, realizaremos a edição 2014 do Exame do Cremesp para avaliar a quantas anda o conhecimento de nossos jovens doutores. As perspectivas são péssimas. Pelo andar da carruagem, em poucos anos, entrar em um consultório médico pode se transformar em novo fator de risco à saúde da população. O diagnóstico está dado; resta agir rapidamente para evitar mal maior. Nota do Editor: João Ladislau Rosa, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP).
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