No vasto processo eleitoral que teve o seu ponto culminante neste domingo, dia 5 de outubro, pode-se dizer que novidades ou surpresas foram muito poucas. A atenção maior da mídia e do público fica voltada para a escolha daqueles que se apresentam para os cargos executivos. Mais do que expor o que pensam candidatos e partidos, a campanha fica empenhada em convencer o cidadão eleitor de que fez ou fará mais coisas boas para todos – exatamente como uma campanha promocional de um novo velho produto lançado no mercado. É isso mesmo de que se trata: um mercado político no qual quem tem mais recursos (dinheiro, tempo no rádio / TV) e mais se amolda às expectativas do consumidor médio, tem as chances maiores de alcançar resultados. Com essas regras do jogo eleitoral tudo que é decisivo para um debate qualificado e democrático para um projeto de povo/nação saudável, culto, educado é deixado de lado. As eleições não servem para isso, como deveria ser. O modo pela qual o processo de escolha é feito faz com que haja uma tendência à conquista do centro político e ideológico, sem o que nenhum governo se estabiliza. O resultado é que os candidatos que realmente estão na disputa se parecem muito (como mercadorias mais vendidas). No Brasil atual em disputa estão acepções um pouco diferentes de liberalismo: maior ou menor presença do Estado na economia, maior ou menor investimento em assistência social, modo de inserção no cenário internacional. Em campanha as variações ficam entre candidato obreiro e candidato moralista. O que se abstrai é que todos reproduzem a dependência frente o capital financeiro internacional. A convergência ao centro liberal, mais ou menos conservador, mais ou menos com preocupações, se fortalece no decorrer da campanha, pela força do dinheiro e do tempo de exposição midiática. Candidatos com propostas ou projetos alternativos ao liberalismo, que propõem formas alternativas de vida social são varridos, sem recursos e sem tempo para colocar as suas ideias para discussão pública. O executivo aparece então como foco prioritário do processo eleitoral, quando deveria ser apenas a indicação última de um processo de escolha de um programa, de um projeto elaborado por forças sociais e políticas, por um partido ou coalizão que se fazem representar no Congresso Nacional. Mas como não há ideias força que agreguem grupos sociais amplos, não há partidos que representem projetos históricos, o cidadão eleitor pouca importância oferece à escolha de deputados e senadores. Ora, se as coisas são assim, se o jogo é esse, não pode ser por essas regras, que mudanças profundas poderão se processar no País e as eleições reproduzirão velhas e novas oligarquias. Nota do Editor: Marcos Del Roio é professor de Ciências Políticas da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp, Câmpus de Marília.
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