Será que o seu filho (a) está passando por isso?
A adolescência é um período marcado por grandes transformações físicas e psicológicas que, muitas vezes, caminham juntas. A mudança natural da voz, também conhecida como puberfonia, é uma das características mais notáveis nessa fase da vida e ocorre principalmente devido às trocas hormonais que transformam a laringe infantil em laringe adulta. Na infância, as laringes femininas e masculinas têm praticamente as mesmas dimensões. Com a chegada da puberdade, entre os 11 e 15 anos de idade, ocorre o crescimento laríngeo em ambos os sexos, mais acentuadamente nos meninos do que nas meninas. Esse processo leva de 6 meses a um ano para se concluir. Durante este período o organismo tenta adaptar-se ao abaixamento repentino do tom de voz dos meninos, acompanhado de episódios de instabilidade vocal, quebras de sonoridade, flutuação tonal entre extremo grave e extremo agudo e rouquidão. Essa flutuação na qualidade vocal muitas vezes desconcerta o jovem. Quanto mais acentuado for o crescimento laríngeo mais grave tende a ser a voz após a muda vocal. Apesar do resultado vocal ser positivo após a puberdade, ou seja, se estabelece uma linda voz grave, o caminho para isso costuma ser sofrido para o garoto, porque a instabilidade vocal é mais notada e muitas vezes acaba sendo motivo de gozação dos colegas. Muitos jovens sofrendo com a situação acabam se retraindo e tentam manter o padrão vocal infantil, produzindo emissão vocal em falsete (voz aguda produzida pelo amplo estiramento das pregas vocais). Com o passar dos anos, a manutenção da voz “fina” passa a ser o problema na idade adulta. O homem passa a ter dificuldades em conseguir um emprego, em arranjar uma namorada, enfim, a conviver na sociedade como um indivíduo normal. Com a voz “fina” automatizada é praticamente impossível mudar sozinho e retomar o processo de abaixamento do tom sem a ajuda de um profissional fonoaudiólogo. Os desvios da muda vocal podem também estar associados a dificuldades no relacionamento entre pais e filhos, inadaptação na passagem à idade adulta, problemas de identidade ou superproteção, timidez e, raramente, a problemas ligados à identidade sexual. No caso das meninas o crescimento laríngeo é pequeno, baixando o tom em cerca de 3 a 4 semitons apenas, não apresentando grande impacto sobre a qualidade vocal. O maior problema observado no sexo feminino durante a puberdade e adolescência costuma ser o aparecimento de nódulos vocais, consequência dos abusos vocais cometidos durante as conversas animadas com as amigas, de frequentar festas e baladas, da prática de esportes competitivos como futebol, basquete etc. Os meninos também podem apresentar nódulos vocais decorrentes do abuso da voz, mas não tão frequentemente quanto as meninas. Para finalizar, ressaltamos que rouquidão por mais de 15 dias deve ser considerada sinal de alerta, além disso os pais devem estar atentos a qualquer desvio da voz, tanto nas crianças, quanto nos adolescentes, pois esses problemas se não tratados logo, podem evoluir comprometendo a qualidade de vida do adolescente e depois do adulto caso permaneçam os sintomas. Nota do Editor: Silvia Pinho, Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana.
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