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Opinião
20/10/2014 - 07h00
Homofobia, a urgência da criminalização
Breno Rosostolato
 

Em um discurso eloquente e frustrado, o candidato à presidência Levy Fidelix (PRTB) distribuiu insultos, esbravejou e revelou uma faceta ainda desconhecida pela grande maioria da sociedade brasileira, que o enxergava de maneira caricata e engraçada. Uma agressividade demasiada e posicionamentos preconceituosos. Dia 28 de setembro de 2014, as declarações do candidato foram além de propostas políticas. Demonstrou o verso do político, o outro lado de um homem truculento, que fez de palavras violentas, sua munição, descarregada nos homossexuais.

Questionado pela também candidata Luciana Genro sobre direitos homoafetivos, Levy vomita opiniões enfadonhas e absurdas. Compara os homossexuais à pedofilia, diz que “dois iguais não fazem filho” e que “aparelho excretor não reproduz”. Não satisfeito, segue desferindo seu ódio. Conclamou: “Vamos ter coragem! Nós somos maioria! Vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los”. Considera a homossexualidade uma doença e que as pessoas se tratem “bem longe daqui”. Termina afirmando que se o casamento igualitário for apoiado, isso reduziria a população brasileira de 200 para 100 milhões de pessoas. Detalhe, a cada impropério a plateia ria como num stand-up.

Não me surpreende os risos, porque acredito que muitas pessoas concordem com as opiniões de Fidelix. Tanto é verdade que nas redes sociais muitas pessoas elogiavam a postura corajosa do candidato por ter falado aquilo que muitos pensam e não tem coragem de dizer. Mas falar estas sandices não é ser sincero, é ser violento e propagar o ódio. Que sinceridade é essa que machuca, açoita, desqualifica, flagela e fustiga? De fato, muitos pensam assim e baseado no que fica nas entrelinhas torna-se convicção quando estimulada através da ira.

A convocação foi realizada como que para uma guerra, cuja segregação social reside na concepção equivocada da maioria e da minoria. E os frutos surgiram no dia seguinte em que a semente de enfrentamento aos gays ter sido lançada. O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) recebeu ameaças de morte em um dos comentários na web da Folha de São Paulo, numa evidente referência à apelação de Fidelix. Não é a primeira vez que o deputado é ameaçado de morte por ser homossexual e pela postura de defensor aos direitos LGBT.

São comportamentos agressivos assim que nos remetem à história e novamente presenciamos o nascimento da violência por meio da massificação, através de discursos tiranos e déspotas, que naturaliza o ódio e incita a selvajaria.

No século 12, na Idade Média, desenvolveu-se uma política rigorosa para lidar com a homossexualidade como o Concílio de Nablus, que estabelecia que os adultos sodomitas, classificação dada à homossexualidade na época, seriam queimados, pois tais práticas eram consideradas criminosas. Um menino gay de 19 anos foi sequestrado, torturado e queimado vivo durante um “ritual de purificação” em Betim, Minas Gerais. Foi encontrada em seu bolso uma carta que sugeria a uma “limpeza” na cidade para aqueles que declarassem seu “amor bestial”.

Os depoimentos de Levy Fidelix, como candidato à presidência, requerem responsabilidade, ponderação e zelo. Político e figura pública, logo, formador de opinião, deveria ser responsabilizado por este comportamento homofóbico. Retrocedemos aos momentos obscuros e sanguinários de nossa história. Por isso a urgência em se criminalizar a homofobia. Em um país sério o candidato sairia preso do debate. Espera-se que o governo reaja para um problema que está mais que escancarado. Não existem assassinatos à heterossexuais por causa de sua orientação sexual, mas matam homossexuais por assumirem sua.

Fato é que a maioria dos heterossexuais não concorda com estas declarações estapafúrdias de Levy. Uma minoria é composta por ditadores da maledicência, fascistas contemporâneos que fomentam a opressão e sujeitam os outros a odiarem como eles. Pautam-se em suas embotadas compreensões de relacionamentos, amor, carinho, respeito e liberdade. Tão sórdidos são que se alimentam das crenças religiosas para difundir as cóleras da humanidade – indiferença, preconceito e intolerância.

Lembro ainda que Levy metralhou os gays com outra frase: “Dois iguais não fazem filhos”. Vi uma frase no twitter que responde perfeitamente esta afirmação. “Dois iguais não fazem filhos, mas adotam o que dois diferentes abandonaram”. Por isso, a importância de se criminalizar a homofobia, pois assim combatemos a mediocridade. Devemos praticar a tolerância, reconhecer a diversidade, conquistar a liberdade sexual e assegurar direitos.


Nota do Editor: Breno Rosostolato é psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM.

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