O criador do moderno teatro brasileiro, o polêmico e genial Nélson Rodrigues, foi ele próprio um grande personagem. Sua vida pessoal foi marcada por inúmeros percalços: teve o irmão, também jornalista, assassinado; o pai, por conta da morte do irmão, logo se foi; a tuberculose o mandou diversas vezes para sanatórios; a úlcera não lhe deu tréguas... Mesmo assim, Nélson Rodrigues trabalhou feito mouro, escreveu inúmeras peças de teatro, crônicas e tudo o mais que fosse preciso escrever para garantir a subsistência da família. Sua trajetória, em detalhes, está descrita em “O Anjo Pornográfico”, de Ruy Castro. Um livro que deve – mais que lido – ser degustado, pela riqueza de informações e pela qualidade do texto. É dele que retiro a historinha que segue. Durante três meses, Nélson ficou “internado” na sala de sua casa, já que se recusava a voltar para o hospital onde fora operado da vesícula e para o qual fora levado outra vez por conta de complicações do pós-operatório. Vivia cercado de gente: familiares, vizinhos e parentes. “Durante o dia, o ‘quarto’ de Nélson tinha uma plateia de FLA-FLU”, escreve Ruy Castro. Nas raras vezes em que ele ficava só (tinha medo de morrer sozinho), narra Castro, Nélson apelava em tom dramático para a sogra: – Dona Concetta, fique comigo. Venha me ouvir gemer. Nota do Editor: Orlando Silveira mantém o Blog do Lando (orlandosilveira1956.blogspot.com).
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