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Opinião
21/11/2014 - 15h00
Interestelar ou uma fábila estóica
Nivaldo Cordeiro
 

O elenco é brilhante e as imagens são belíssimas, mas o filme Interestelar, de Christopher Nolan, é chato, demasiado longo (169 minutos) e tem uma história, ainda que bem contada, que é a expressão dos delírios materialistas dos físicos teóricos modernos. Uma mistificação sem peias.

É interessante ver ateus declarados tentarem fazer arte com suas crenças mais profundas. O pessimismo materialista salta aos olhos, pois sempre percebem o futuro da terra (e da humanidade) de forma sombria, por mais que saibamos que nosso planeta é um jardim, que tudo nos provê e nada nos falta. Se há uma metáfora para falar da terra é que ela é fonte do maná que alimenta a raça humana. Um milagre de Deus.

Uma variante do materialismo contemporâneo é a crença nos espíritos, essa ressonância platônica para as massas. O filme usa a imagem para tentar mostrar que no além somos sempre nós que estamos e nada mais. A crença na eternidade da matéria. Pior: quem pode nos salvar somos nós mesmos. A ilusão materialista cria formas fantasmagóricas de fazer inveja à crendice popular. Não estamos sós no universo porque estamos conosco mesmos, não é lindo?

A história do filme conta o projeto de um grupo de cientistas que quer salvar não as pessoas, mas a espécie, de uma terra devastada e incapaz de proteger a vida. Uma ideia abominável pois, a rigor, não há humanidade, há as pessoas em carne e osso. Eu falo com João, com Maria, não falo com a humanidade. Essa tolice é consonante a ideia estóica da eternidade da alma enquanto mônada. A ideia humanista elevava ao máximo, a de que o homem salva a si mesmo. O diretor joga seu esforço para mostrar como passado, presente e futuro se fundem se for possível atravessar o “buraco de minhoca”.

Que diabos é isso? Uma das hipóteses da física teórica que deve ter brotado dos buracos de minhoca dentro do cérebro dos físicos materialistas. A hipótese, absurda em si, é levada a sério e tratada como se fosse uma realidade imediata, o que é uma tremenda farsa para com o público. Buracos negros e de minhoca têm em comum que, neles, a vida humana não sobreviveria, nem mesmo dentro de um foguete espacial.

A inexistência do tempo histórico é compatível com a ideia do eterno retorno do mesmo, uma cara ideia estóica. O problema é que o tempo histórico existe na realidade. Apenas modelos matemáticos, que são pura abstração, podem imaginar um tempo negativo ou a possibilidade de se viajar por ele. Ortega y Gasset falava da razão histórica precisamente porque o homem é história. Sem ela, não há cultura e não há técnica e, menos ainda, físicos teóricos. Nem linguagem.

Quando eu falo com alguém eu não falo com uma pilha de células e molécula e átomos. Eu falo com a unidade, que é uma pessoa. A desconstrução do conjunto com fitos científicos é o truque usado pelo diretor (que é o roteirista) para embarcar nesse devaneio espaço-temporal, falsificador do real.

Da mesma forma, quando olho o céu eu vejo a lua e o sol radiante e as estrelas como pontos minúsculos. Por mais que brinquedos sejam arremessados ao espaço (como a sonda que agora pousou em um cometa) e que, abstratamente, saibamos da imensidão interestelar, ela, a imensidão interestelar, não nos pertence e não interfere na nossa existência. A terra é o nosso berço e será o nosso túmulo.

A comunicação binária estabelecida no retorno do herói, que se comunica com sua filha, esconde a realidade mais óbvia. Ninguém fala ou compreende binário, fala-se a língua corrente que é ela própria história. O sistema binário apenas traduz em outros termos a linguagem corrente. E essa tradução é já história. Enfim, um enredo enrolado e chato e que de forma alguma me atrairia para vê-lo novamente.


Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais.

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