I Só para constar: consciência não tem cor. II
Aqueles sujeitinhos que não tiram a palavra conscientização da boca são, dum modo geral, indivíduos alienados de si e, por isso mesmo, imaginam que o mundo deveria ser tal qual o seu umbigo. E isso é toda sua consciência crítica. Bem crítica (Obs.: eles adoram essa palavra também). III
José Bonifácio adverte: “os que não têm medo comandam os que têm”. É simples assim. VI
Não acredito que as pessoas devam tomar consciência disso ou daquilo porque essa conversa de conscientização é pra lá de cafona. Coisa de militonto com duas mãos esquerdas. O que é necessário é simplesmente que as pessoas queiram informar-se, movidas por uma brutal e sincera vontade de conhecer a verdade. Aliás, os militontos que tanto gostam de fazer pose de gente consciente e esclarecida poderiam, uma vez ou outra, realmente procurar conhecer os fatos sem mutilá-los para melhor enquadrá-los em seu tateante mundinho ideológico. Poderiam, quem sabe um dia, permitir que os fatos se manifestem e se apresentem aos seus olhos como eles são, sem procurar subterfúgios para justificá-los e pervertê-los para o conforto de sua consciência crítica. VII
O Brasil cai 20 posições no ranking de infraestrutura. Vejam só! Mais uma conquista petista para atravancar a nação rumo ao “pugresso”! Uma conquista inédita! Um feito técnico e administrativo como nunca se viu antes na história desse país. E você fica falando mal da presente(a) de nosso finado país. Como pode uma coisa dessa? Como pode? Isso é muito feio, muito feio, cidadão malvado... VIII
Todo indivíduo que acredita que a militância política em prol duma ideologia totalitária seja uma espécie de missão salvífica sofre do que poderíamos chamar de complexo de Rousseau. Tal qual o filosofante de Genebra, essa gente julga-se ser a encarnação rediviva duma utopia totalitária, do homem novo. E por agirem desse modo acabam por tornar-se um tipo peculiar de misantropo. Essas enfermas almas acreditam, candidamente, que são almas puras, que estão acima do bem e do mal simplesmente porque professam a crença na infalibilidade e na inevitabilidade do socialismo. Ou seja: essa gente, crítica e consciente, como eles gostam de se autodenominar, se acha profundamente virtuosa por nutrir todas as suas esperanças nessa crença secular e, em vista disso, acaba transferindo o pecado, as falhas humanas, para os outros. Sejam esses outros um grupo de pessoas ou uma mera fantasmagoria abstrata (o sistema, o imperialismo, ou coisa do gênero). O importante é que a culpa seja sempre dos outros, nunca dos imaculados rubros. Por fim, todo o sujeito que sofre do complexo de Rousseau, acaba afundando-se num inconfesso ressentimento em relação a tudo e a todos e afogando-se num ódio indisfarçável ao ser humano, mesmo que procure dissimular esse ódio com infindáveis declarações de amor pela humanidade. IX
A galera muito crítica e consciente de tudo tem consigo uma regra áurea que seria mais ou menos assim: a verdade só é legítima se estiver de acordo com as suas convicções ideológicas e a sinceridade só é crível se massagear suavemente o seu ego ideologicamente deformado. Ponto. É simples assim.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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