Atualmente, uma simples busca nos portais de emprego resulta em centenas de vagas disponíveis para engenheiros em todo o território nacional. As oportunidades de colocação para esse profissional no mercado de trabalho fogem do padrão de ofertas com relação a qualquer outra profissão procurada. Intrigante saber por que este profissional está sendo tão valorizado nos dias de hoje e, mais ainda, por qual razão as empresas não estão conseguindo encontrá-los em número suficiente e com qualificações desejáveis. De acordo com informações dos conselhos Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) e Regional de Engenharia (CREA), o Brasil tem hoje cerca de 600 mil engenheiros registrados. Isto equivale a seis profissionais para cada mil trabalhadores. Nos Estados Unidos e no Japão, essa proporção é de 25 para cada grupo de mil pessoas economicamente ativas. Dados do sistema da federação das indústrias mostram que, do total de cursos oferecidos no País por instituições públicas e privadas, 76% são para áreas de Humanas e Sociais, e 8,8% são para Engenharias. O Brasil forma, por ano, cerca de 40 mil engenheiros. Na China, o número de engenheiros que entram no mercado por ano chega a 650 mil, contra 220 mil na Índia e 190 mil na Rússia. De acordo com o CREA e CONFEA o Brasil possui um déficit de 20 mil engenheiros por ano, problema que foi e está sendo agravado pela demanda decorrente das obras do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), Programa Minha Casa Minha Vida, Pré-Sal, Jogos Olímpicos de 2016, entre outras. Para tentar entender o que ocorre atualmente, é necessário voltar algumas décadas e analisar a situação econômica do Brasil. No final da década de 1960 e início da década de 1970, o país atravessava um excelente momento econômico, paradoxalmente, ainda sob o regime militar. A nação se encontrava em franco desenvolvimento, havia muitos investimentos, incentivos fiscais e atração de capital estrangeiro. O país estava em meio a um grande canteiro de obras, com execução de obras de grande porte espalhadas por todo território nacional, entre alas: a construção da Ponte Rio Niterói, que representou na época o apogeu da engenharia nacional, construções de hidroelétricas, como a de Itaipu, pavimentação de estradas, entre outras. A situação econômica estava em ascensão e o país vivia o que foi chamado na época de milagre brasileiro. Nesse período a demanda para a contratação de mão de obra técnica era intensa frente a um mercado promissor e, consequentemente, com muita procura para os cursos de engenharia e suas especialidades, tais como a engenharia civil, mecânica, elétrica etc. Os profissionais eram valorizados tanto pelo mercado, como pela sua própria condição social e pelo “status” que o título representava. A oferta era proporcional ao crescimento, justificando-se maior demanda para o treinamento e formação dos profissionais da área de engenharia. Entretanto, a economia brasileira passou por dificuldades complexas no início dos anos 1980, com problemas internos e por sérios agravamentos das políticas externas. E, é fato que quando ocorre uma crise financeira a economia inicia um processo de estagnação e os investimentos acabam acompanhando essa tendência. Os principais segmentos que representavam os pilares do desenvolvimento econômico sofreram influência direta desse processo, diminuindo inicialmente a oferta de serviços, o fornecimento de insumos e materiais, inibindo os projetos de implantação e planejamento. Esse panorama alterou, sensivelmente, o mercado de trabalho que ficou caracterizado pelas poucas oportunidades de trabalho, principalmente, nas áreas relacionadas à engenharia, setor que contribui diretamente com o desenvolvimento e crescimento econômico do país. Isso trouxe relevante desinteresse pela profissão, o que resultou na incapacidade de formar engenheiros em número suficiente para atender a demanda do mercado. Com a implantação do plano real, a economia voltou a crescer de forma mais segura e equilibrada, com o retorno dos investimentos e a situação começou a mudar. A área da engenharia, que sempre foi considerada estratégica para o desenvolvimento, voltou a ganhar corpo e a procura por esse profissional começou a crescer de forma abrupta e desesperada, frente às necessidades do mercado. E, assim como aconteceu com os profissionais da área de informática, o mercado tem buscado atrair os engenheiros com ofertas de ganhos bastante atraentes. Nota do Editor: Augusto Cesare Stancato é engenheiro civil, mestre e doutor na área de materiais e coordenador do curso de Engenharia Civil da Faculdade Anhanguera de Campinas.
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