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Crônicas
19/04/2005 - 07h52
Questionado os questionários
Moacyr Scliar - Agência Carta Maior
 

Não sei vocês, mas na época de colégio respondi a muitos questionários. As perguntas figuravam em um caderno caprichosamente encapado (questionários eram geralmente organizados pelas meninas) e abordavam vários assuntos, se bem que algumas perguntas ("Amas?") eram clássicas e inevitáveis. E nós as respondíamos, sem saber que este tipo de questionário estava associado a uma grande figura da literatura mundial: ninguém menos que Marcel Proust.

Que, no entanto, não o inventara. Na realidade, o próprio Proust respondera a questionários em sua adolescência. Um destes foi, inclusive, preservado para a posteridade; as respostas proustianas, aliás, são extremamente reveladoras. À indagação "Qual o auge do sofrimento humano?", respondeu o jovem Marcel: "Ficar separado da mãe". Declaração edipiana típica, compreensível em alguém que era filho de um autoritário médico sanitarista e de uma superprotetora mãe judia.

Num segundo questionário - Marcel já tinha 20 anos - descreveu como sua mais marcante característica "a necessidade de ser amado"; a qualidade que ele mais admirava num homem era o "charme feminino" uma provável manifestação de sua homossexualidade. Em 1886, Proust elaborou seu próprio questionário, que desde então vem sendo usado, geração após geração, embora as perguntas, ao contrário do que se poderia esperar de um escritor tão brilhante, sejam absolutamente convencionais.

E como seriam formuladas as perguntas de um questionário atual? O leitor Dreison Tolotti dá uma dica, no questionário que fez recentemente circular na Internet. Há questões que são típicas da cultura jovem atual: "Furos nas orelhas? Tatuagens? Piercings? É virgem? Está namorando ou ficando com alguém?" Outras revelam o desejo de aventura de conhecer novos lugares: "Já foi à África? Qual a melhor viagem que já fez?". Sobre os riscos: "Já sofreu algum acidente de carro?". E existem algumas filosóficas: "O copo está metade cheio ou metade vazio? Tem mais medo da vida ou da morte? Pior sentimento do mundo? Melhor sentimento do mundo? O primeiro pensamento que você tem ao acordar?". Uma curiosa: "Qual a figura do seu mouse-pad?".

A verdade é que o questionário é uma excelente forma de aproximação entre as pessoas, pela simples razão de que a pergunta é mais amável do que a afirmação. Quando perguntamos, estamos concedendo um espaço ao outro, estamos dando a este outro uma oportunidade de se fazer conhecer. Perguntar não ofende. E nem é sinônimo de ingenuidade. O grande Sócrates, que sabia muita coisa do mundo, trabalhava com seus discípulos fazendo-lhes indagações, estimulando-os a que encontrassem suas próprias respostas para os dilemas do mundo. E seu exemplo foi seguido por escritores. Embora Proust não tenha transformado seu questionário em literatura, outros o fizeram: Pablo Neruda, por exemplo, é autor de um maravilhoso Livro das Perguntas, lançado no Brasil pela indagadora, sempre inovadora e nunca conservadora L&PM. As perguntas que Neruda faz têm o poder de introduzir-nos num universo mágico. Um único exemplo: "Por que os imensos aviões não passeiam com seus filhos?". Hans Christian Andersen, cujo bicentenário acabamos de comemorar, gostaria dessa. Porque ele era um mestre da imaginação. E a imaginação nutre-se de perguntas para as quais não temos respostas.

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