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SEÇÃO
Crônicas
03/12/2014 - 15h30
Barulho infernal
Damião Ramos Cavalcanti
 

Um senhor bem vestido, que prefere barbearia a “salão de beleza”, falava alto, para quem quisesse ouvir: “Não vou mais à festa de formatura ou de casamento. É um barulho infernal! Para escutar ou ser escutado, encosto a cara na boca infectada de quem me fala e sempre pego gripe ou ganho garganta inflamada. Além do mais, saio daquele barulho infernal, com os ouvidos zunindo”.

Fiquei pensando o porquê do infernal, nunca achei no Inferno, da Divina Comédia, de Dante, o barulho como coisa do purgatório ou como uma atroz pena, um cruel castigo do Inferno. Imagine, se não lá, tampouco no Paraíso. Na realidade, esse tipo de inferno é em vida, por aqui mesmo, são os que querem ser os únicos escutados, não permitindo alguma conversinha que nos distraia das suas “habilidades musicais”, o que seria agradável se não fosse tão desconfortável e perturbadora zoada. Não há dono de festa que controle, a banda dita o som naquele esmagador volume, não tolerando fofocas, nem piada, nem conversa séria... Se alguém encurralasse naquele ambiente ensurdecedor um rebanho de bois e vacas ou de ovelhas e carneiros, debandariam, lá não ficaria um só bicho. Assim comanda a sábia natureza e faz com que as mesas mais distantes do palco sejam as mais procuradas, longe, como diz Graciliano Ramos, do “batecum” insuportável. Até os surdos reclamam: “Música alta! Pensam que sou mouco”... 

O irônico é que, nas ruas, tal barulho é proibido, desde que se chame a Sudema com seu decibelímetro para medir os decibéis dentro ou fora do limite consentido. Mas, nessas festas familiares ou escolares, o além do máximo é permitido; os convidados, trancados num ambiente fechado como no jantar de Luís Buñuel, em O Anjo Exterminador, entregam-se a discreto masoquismo. Nessas festas de núpcias, teme-se até que o som rompa nossos tímpanos. Enfim, os tocadores param seus instrumentos para uma pausa, o silêncio nos conforta, convencendo-nos como realmente o barulho estava infernal. Mas depois, “La nave va”, e, em atenção aos pais dos nubentes, atinge-se a hora justificável da saída, quando já é madrugada. Chegando em casa, às duas manhã, ainda sem “lesão coclear”, a audição serena, volta ao normal, introduzindo-nos no silêncio para um bom sono. Conclui-se, então, que o conforto seria apenas a diminuição daquela barulheira que retornará nas próximas formaturas, nos próximos casamentos. Porque, somente nessas ocasiões, solenemente acontece tamanho barulho.

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