Há uma palavra que é vista, pelo pedagogismo reinante, como um sinal de grande mau agouro. Reprovar é a palavra. Isso, muito se deve, a infecção marxista do vocabulário utilizado na seara educacional de nosso país que transfigurou a reprovação de alguém em sinônimo de “exclusão social”. Sei que ela não é a única, mas fiquemos, por hora, apenas com ela. Vendo a educação por esse viés turvo, o professor acaba sendo reduzido a uma espécie de agente, inconsciente e alienado, do sistema CAPETALISTA e ali estaria para impedir que ele, o educando, obtenha o diploma que almeja e, se possível for, destruir a autoestima do infante. Porém, é claro que há os educadores bonzinhos que, de acordo com essa cartilha pedagogesca, são conscientes e críticos e, por isso, não se prestam a esse hediondo papel de agentes da exclusão social. O aluno pode até não aprender nada, mas é aprovado ao final de tudo. Mas não nos iludamos com esse canto de sereia porque não é bem assim que a banda da vida toca. Hoje, mais do que nunca, urge lembrarmos as palavras de Santo Agostinho que admoesta-nos para que sempre prefiramos aqueles que nos criticam, porque nos corrigem, do que aqueles que nos bajulam, porque nos corrompem. Por isso, digo e repito: reprovar, algo ou alguém, é uma dádiva, não um ato de exclusão. Aliás, não é nem mesmo um castigo. Se nos atermos a etimologia da própria palavra, compreenderemos que quando reprovamos estamos tendo uma segunda oportunidade de provarmos que podemos fazer por merecer; uma chance de re-provar que somos capazes de realizar isso ou aquilo sem ficarmos devendo favores para alhures e, principalmente, sem depositarmos a responsabilidade por nossos erros no tal do sistema ou nas costas de outrem. Reprovando temos uma outra chance para provarmos o nosso valor. Porém, se somos aprovados a revelia, com base em ilações vitimistas, recebemos apenas um atestado de coitadismo que nos habilita a sermos usados indefinidamente por qualquer um que diga ser nosso protetor, a sermos manipulados por qualquer pilantra populista que afirme que irá nos ajudar. Por fim, é por essas e outras que toda tentativa de desmerecer o mérito não passa duma mal disfarçada canalhice pedagógica. Apenas isso, nada mais do que isso.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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