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Crônicas
29/12/2014 - 14h02
Hábitos
Sebastião Seiji
 

Durante muitos anos, eu cultivei o estranho hábito de acordar cedo nos domingos, e disputar partidas de basquete – street ou 5 x 5, dependendo do número de pessoas que compartilhavam essa prática incomum para a maioria... mas foi meu instante lúdico, muitas vezes a única válvula de escape que eu tinha da rotina e cotidiano.

Recentemente, percebendo como os anos se passaram – pois estava jogando com os filhos de colegas de vinte anos atrás, fui percebendo que se meu tempo ainda não passou, estava bem próximo...

Nunca fui o “cara”, aquele que pega a bola e infiltra insanamente dentro do garrafão para fazer a bandeja improvável – enterrar sempre foi um sonho intangível. Ou com um drible de corpo e desequilibrado, acertar o arremesso decisivo. Já aconteceu de fazer decidir partidas, mas a favor do que contra... mas nos últimos tempos, eu nem tentava.

Me dediquei as nobres artes da defesa, do corta-luz e pick and rolls, utilizando minha presença física – não sou alto, mas meus ombros são largos e sou forte. Me satisfazia em muitas vezes anular o melhor jogador adversário, ou restringindo seu número de pontos, dando uma chance para a minha equipe ganhar.

Eu poderia continuar jogando... fisicamente estou bem. Mas depois de muitos anos, eu me questionei: por que eu acordava cedo em pleno domingo para arriscar a me lesionar, como tantas vezes me lesione???

Analisar hábitos tão intrínsecos a nossa rotina é complexo... eu comecei quando eu era solteiro, e mesmo após dois relacionamentos, eu mantive esse hábito – salvo quando eu estava machucado ou no breve período em que mudei de minha cidade.

Na busca de uma explicação, imaginei que era uma busca de auto-afirmação... questão máscula de sobrepor alguém mais novo, alto e forte... ou apenas sentir a emoção de decidir um jogo acirrado... mas que não valia nada... não tem muito sentido.

Por último, imaginei que era pelo fato de voluntariamente pertencer e ser decano de um grupo de pessoas que estranhamente tinham o hábito de jogar basquete em pleno domingo de manhã... uma fauna que abrigava desde doutores até analfabetos funcionais, que nutriam a mesma paixão.

Sempre fui sarrista... pensamento rápido que criava factóides e apelidos que muitas vezes suplantavam o próprio jogo em si, em que a sorte muitas vezes decidia antecipadamente quem seria a equipe a ser batida, pois apesar da justiça de acertar um arremesso livre, nunca sabemos ao certo quem formaria a equipe.

Acontecimentos recentes fizeram que eu refletisse sobre muitos aspectos de minha vida pessoal: eu gosto de jogar basquete, mas tenho consciência dos riscos que corro ao entrar na quadra. E o medo acaba com qualquer diversão... não me lesionei nos últimos meses, mas encontrei colegas contemporâneos que estão com limitação de movimentos em decorrência de cirurgias nos joelhos e tornozelos, além de uma pessoa com uma bizarra lesão no ombro, em que literalmente sai do lugar e ele, após uma sequência de movimentos coloca no lugar.

A vida é um risco, muitas vezes calculados, e algumas simplesmente ocasionais... eu nunca fui o “cara” decisivo, mas já decidi partidas... e fiz muitas coisas consideradas excepcionais, assim como cometi erros homéricos.

Não estou sendo o arauto da mudança indiscriminada de hábitos... apenas estou literalmente divagando sobre por quê mantemos determinadas rotinas... muitas vezes sequer temos a noção de quão nocivas elas são, pois são decisões automáticas.

Sinceramente, não é apenas o medo de me machucar e, com isso, prejudicar minha vida pessoal e profissional. Mas tenho consciência que, em decorrência desse hábito, eu perdi muitas manhãs de domingo com minhas filhas.

Eu não posso mudar o meu passado, mas no futuro, vou procurar um novo grupo de pessoas que gostem de jogar basquete como eu... cuja idade seja mais parecida com a minha e que de preferência joguem em um dia da semana, à noite. Se não encontrar, paciência...

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