Os primeiros movimentos do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, em especial as medidas que vêm sendo anunciadas pela equipe econômica, respondem às expectativas dos setores produtivos e da sociedade. O ajuste fiscal é a principal providência para a reconquista da confiança dos investidores e consumidores. Assim, espera-se que se concretize o corte de despesas, que, além de onerosas, são de péssima qualidade, em sua maioria. Em contrapartida às ações de contenção de gastos, algumas contradições podem influenciar o grau de confiança na administração. Um exemplo foi o anúncio, pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, de alterações na política de reajustes para o salário mínimo. Desautorizado pela presidente da República, o novo membro do governo precisou ir à imprensa para explicar ter ocorrido má interpretação do que dissera. A justificativa, contudo, não convenceu, deixando no ar um questionamento sobre os limites de autonomia da equipe econômica. Outra contradição deu-se entre os novos ministros Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, e Kátia Abreu, da Agricultura. O primeiro, em sua cerimônia de posse, defendeu a reforma agrária, manteve firme discurso sobre os limites do direito à propriedade, “que pode ser questionado”, e ratificou a questão dos latifúndios. Tudo isso, um dia após a senadora, ao assumir seu posto no Ministério, afirmar que não há latifúndio no Brasil e minimizar a necessidade de se fazer uma reforma agrária. É natural que em governos democráticos, cuja base de apoio é constituída por distintos partidos, exista uma pluralidade de ideias. Há que se considerar e respeitar, também, a liberdade de expressão. No entanto, acima de ideologias e questões partidárias, é preciso um mínimo de coerência por parte dos integrantes dos principais escalões, para que prevaleçam a confiança e a credibilidade.
Imaginem um investidor que esteja pensando em adquirir terras no País para um grande projeto na área do agronegócio. Na avaliação do risco, tendências do valor da terra e segurança jurídica, como tomar a decisão? Sob a ótica da cerca em pé da ministra Katia Abreu, ou sob o discurso de botar a cerca no chão do ministro Patrus Ananias? E as empresas de todos os setores devem fazer suas projeções para os próximos anos sob qual tendência de aumento do salário mínimo, que tem impacto amplo na economia e nos custos em geral? Que as contradições fiquem apenas nesses dois exemplos ocorridos nos primeiros dias do novo mandato da presidente Dilma. É preciso transmitir segurança e confiança à sociedade. Assim, a partir das medidas de responsabilidade fiscal, que são o eixo e ponto de equilíbrio da recuperação econômica, é preciso que o governo sinalize um planejamento de curto, médio e longo prazo para a retomada do crescimento sustentado do PIB. Basicamente, o Brasil precisa de juros e impostos compatíveis com os vigentes nos países com os quais competimos, bem como financiamentos de longo prazo também para as médias e pequenas empresas. É premente desmontar a armadilha do Real desvalorizado e Selic alta como estratégia única de combate à inflação, pois isso aniquila a competitividade. Como reverter esse quadro, para ampliar a oferta de produtos, diminuir o custo de se produzir no Brasil, diminuir a burocracia e diversificar a concorrência dos serviços, insumos e matérias primas? São essas as respostas esperadas pela sociedade, sem contradições e ambiguidades, para que a credibilidade seja a fiadora de um novo ciclo de desenvolvimento. Nota do Editor: José Ricardo Roriz Coelho é presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast-SP), vice-presidente e diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.
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