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Opinião
20/01/2015 - 11h00
Porque somos Charlie
Montserrat Martins
 

Vivemos na Era da contestação, mesmo o que pareceria óbvio e consensual, um “bom senso” coletivo, nem isso é unânime. As manifestações “todos somos Charlie”, de solidariedade ao Charlie Hebdo vitimado pelo terrorismo, uniram a comunidade internacional mas até esse movimento de apoio foi criticado nas redes sociais. Acusam o “Je Suis Charlie” de hipocrisia, pela presença de mandatários dos países europeus cuja conduta como líderes não seria coerente com a causa da paz.

Mário Quintana observou uma vez que as pessoas não se restringem a comentar o que uma coisa é, costumam discutir principalmente o que ela não é: diante de um texto, por exemplo, ao invés de comentar seu conteúdo, ficam criticando o que faltou escrever. É o caso da contestação ao “nós somos Charlie”, onde outras condutas políticas são comparadas à participação nessa onda de solidariedade internacional.

Luís Fernando Veríssimo escreveu sobre o papel das “teorias unificadoras” no imaginário das pessoas, “unificadoras” porque tudo, absolutamente tudo no mundo, teria de ser explicado por uma única teoria. Isso acontece não só no fundamentalismo religioso – a causa do terrorismo que atingiu o Charlie Hebdo – mas também em vertentes do marxismo, da psicanálise, enfim, de setores científicos e intelectuais habilitados a discernir que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”.

Quando criticamos as incoerências alheias, estamos negando méritos aos seus acertos porque queremos aproveitar a ocasião para descontar os débitos de seus erros. A Angela Merkel e o François Hollande, que apareceram bem à frente da caminhada de solidariedade ao Charlie, estariam usando o movimento para promover sua aliança com os Estados Unidos na “guerra ao terror”, no qual direitos civis podem vir a ser subtraídos, os imigrantes perseguidos, enfim, uma série de desumanidades podem ser cometidas em nome de uma postura dita humanitária.

De fato essas críticas podem ser interessantes, realistas, verdadeiras mesmo, afinal sempre é lícito desconfiarmos das boas intenções dos poderosos. Nelson Rodrigues estava certo quando dizia que “toda unanimidade é burra” porque tudo tem o seu lado reverso, então a crítica – por mais chata que seja – nos torna mais bem informados, “ligados”, espertos, mais conscientes e inteligentes enfim. O que não muda o fato de que, apesar das distorções que possam ser feitas, a solidariedade ao Charlie é correta e necessária. Porque?

O Charlie Hebdo se caracterizou por ser sempre o mais indigesto crítico dos poderosos. Estes que aí estão apontados como hipócritas já foram todos ridicularizados em suas charges, abusadas e sem limites. A origem do nome é prova disso, pois se chamava “Hara Kiri” e fora proibido ao ironizar a morte do poderoso Charles de Gaulle. Para seguir, passou a ser semanário (Hebdo), então, o jornal mensal que mantinham com o nome em homenagem ao personagem Charlie Brown.

Os poderosos líderes mundiais que marcharam em apoio ao jornal jamais serão poupados pelos seus editores remanescentes. Quando eles usarem a guerra ao terror como justificativa para práticas nefastas, os primeiros cartuns denunciando seus abusos virão de lá. Nada disso impede que nesse momento eles prestem as devidas homenagens, solidariedade e defesa da liberdade dos seus maiores sátiros, no melhor espírito de Voltaire, de que “não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las”.


Nota do Editor: Montserrat Martins, colunista do Portal EcoDebate, é psiquiatra. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

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