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Crônicas
24/01/2015 - 09h00
Minha vida paralela: ser mãe e ser mulher
Tais Viana
 

Dia desses comecei a reparar que muita gente que eu conheci começou a aparecer na revista Exame. Tenho feito desde então um exercício de realidade paralela: uma versão anterior de mim formou-se em engenharia, foi trabalhar em consultoria de estratégia, cresceu rapidamente no trabalho. Foi uma workaholic inveterada e ganhava um salário obsceno. As pessoas achavam que eu seria aquela tia solteirona, com um trabalho glamoroso, que nunca se casa e tem filhos. Apesar de eu ser uma pessoa naturalmente solitária e não sentir (na época) falta de ter filhos e muito menos marido, uma revolução pessoal me tirou desse caminho.

Para espanto da minha desavisada família e meu, principalmente, “juntei” com o namorado, noivamos, casamos, botei mais um sobrenome, tivemos uma linda filha quando ninguém mais achava que isso aconteceria e hoje sou uma típica mãe que trabalha de casa, atolada em afazeres domésticos e profissionais. Engordei 10 kg, não lembro quando foi a última vez que botei um salto alto, guardo as roupas “de antes” na esperança ingênua de um dia caberem novamente. Tentei aprender a cozinhar, não sei mais o que é dormir uma noite inteira, sei quantos cocôs minha filha fez no dia, sei pra quê serve cada um dos produtos de limpeza e acredito que o lenço umedecido foi uma das maiores invenções da humanidade. Agora tenho uma rotina.

Ano passado entrei em crise. Queria pôr a filha debaixo do braço, fazer as malas e mandar às favas o marido, meus pais, meus sogros, a casa, os 10 kg a mais e a rotina. Eu já estava no limite com minha versão atual. Fiz terapia, massoterapia, reiki, aromaterapia, meditei, acendi incenso, vela, rezei, fiz outra terapia, tricô, briguei, esbravejei, pedi o divórcio algumas vezes, chorei.

Quando minha realidade paralela começou a aparecer na revista Exame, comecei a ver tudo o que eu tinha perdido. A essa altura eu poderia já ser literalmente milionária, viver viajando, conhecendo lugares e pessoas exóticas. Continuaria magra e muito chique. Namoraria um cara lindo, 10 anos mais novo. Teria uma governanta pra cuidar da casa pra que eu não tivesse que me preocupar com isso. Não cozinharia um ovo frito, mas comeria nos melhores restaurantes do mundo. Acharia que lenço umedecido serve apenas para tirar a maquiagem. Frustrei-me. E chorei mais um pouco. Perdi o sagrado sono das mães algumas noites.

Tentei descobrir como fazer pra voltar naquele caminho. Eu deveria voltar para o MBA que abandonei nos Estados Unidos? Correr atrás do tempo perdido para buscar novamente um emprego desafiante e muito bem remunerado?

Mas um belo dia, comum como todos os outros, minha filha entrou correndo no escritório de casa e sorriu como só ela sabe fazer. Queria colo. Larguei o trabalho, fomos para o quarto e fiquei olhando seu rostinho enquanto ela adormecia. Chorei de novo.

Minha versão atual ainda está em construção, precisando de ajustes, mas agora sabe que é melhor que a anterior. Minha vida agora é um filminho básico de sessão da tarde, mas com final feliz.


Nota do Editor: Taís Viana é co-idealizadora do CineMaterna, iniciativa que promove sessões de cinema amigáveis para mães (e pais) com bebês de até 18 meses.

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