A reeleição de Dilma Rousseff não foi nada fácil. A vitória foi apertada e não sem traumas e ressentimentos. Contudo, agora, presenciamos um começo de mandato extremamente complicado. Dilma fez seu discurso de posse e desapareceu. Não esteve na mídia. Realizou, junto à sua equipe de governo, ações que havia, em campanha, dito que seriam realizadas pelos seus adversários. Realmente, o discurso é um – assentado no marketing político – e a prática governamental é outra. Juros subiram, bem como os preços de energia elétrica e combustíveis, além da modificação de direitos trabalhistas (o que havia dito que não mexeria nem que a “vaca tussa”) e a tabela do imposto de renda. Não bastasse isso, o novo ministério traz nomes medíocres, excetuando a equipe econômica que, vale lembrar, advoga teses mais próximas do candidato derrotado Aécio Neves. Dilma conseguiu fato raro: irritou o ex-presidente Lula, demitindo Gilberto Carvalho; atraiu a ira de Marta Suplicy, irritou parcela substancial do PT e, ainda, do PMDB. Lula, por exemplo, “liberou” os movimentos sociais para pressionar o governo. Nada, nada fácil para Dilma. As eleições para as mesas diretoras do Senado e da Câmara Federal foram derrotas fragorosas para o Planalto. Eduardo Cunha foi eleito presidente da Câmara e mesmo sendo do PMDB – da base aliada do governo – não pode ser considerado um efetivo aliado. Pode não ser inimigo, mas está longe de ser amigo. Arlindo Chinaglia, candidato do governo, perdeu e teve quase a mesma quantidade de votos de Júlio Delgado, candidato do PSB e de oposição. No momento que escrevo estas linhas, confirma-se a saída de Graça Foster da Presidência da Petrobras. Ficou, para Graça e Dilma, insuportável a permanência de Foster e da atual diretoria da companhia. O pior é que, neste caso, há amizade entre ambas. Amizades e poder político parecem não combinar muito, ao menos nos governos petistas. E, por fim, o balão de ensaio de um impeachment de Dilma é lançado. Notícias indicam que na festa da vitória de Eduardo Cunha, alguns vociferavam pela saída da presidente Dilma e faziam chistes com a atual articulação política, nas mãos de Aloizio Mercadante e Pepe Vargas. Nada, nada fácil: Lula insatisfeito, PT insatisfeito, PMDB com mais poder e um fantasma de impeachment... Torçamos pelo Brasil! Nota do Editor: Rodrigo Augusto Prando é professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui Graduação em Ciências Sociais (1999), mestrado em Sociologia (2003) e doutorado em Sociologia (2009) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
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