Algo de muito triste está acontecendo no mundo. É como um forte pressentimento de colapso da humanidade. A tragédia, mais do que anunciada, porém, inevitável. Estamos vivendo em absurdos, já há algum tempo. Mas tudo bem, a humanidade se sustenta neles. Somos inundados com a violência do dia a dia e ela vem em todas as formas imagináveis. Acontece que – seja ela social, emocional, na família, no trabalho, ou mesmo pela corrupção – intolerância, preconceito, discriminação, ressentimento e segregações não são ‘modismo’. Fruto de um passado manchado por barbáries, toda violência é resultado de equívocos, distorções e ignorância. Em construções sociais, a violência reverbera, ecoa. Ainda que possua suas oscilações, ora rústica e embrutecida, como uma briga de torcida, ora mais elaborada, como numa guerra, que conta com uma boa estratégia e planejamento estruturado. Não importa: trata-se de uma tradução do momento histórico e da natureza do ser humano em sua faceta bestial. No dia 5 de janeiro, houve uma passeata que contou com a participação de aproximadamente 15 mil manifestantes, na cidade de Dresden, contra a suposta ‘islamização’ da Europa. O grupo que organizou o encontro intitula-se como Pegida, sigla alemã para ‘Europeus Patriotas contra a islamização do Ocidente’, em tradução livre. Desde dezembro do ano passado, as manifestações acontecem regularmente, às segundas-feiras, e vêm ganhando cada vez mais seguidores. O Pegida não é um partido, mas um movimento populista sustentado pela xenofobia. Engloba ira e descontentamento contra cidadãos islâmicos, generalizando a ideia de que o terrorismo é típico de todos os muçulmanos que imigram para a União Europeia. O que mais assusta é que, o movimento, embora não tenha amparo político, alimenta-se de mentalidades, ideias e opiniões bastante preconceituosas e segregadoras. Com um forte aumento de intolerância social, países europeus se veem envoltos em movimentos radicais de alguns partidos. Assim é, por exemplo, o comportamento da francesa Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, que defende a saída da França da União Europeia e, consequentemente, da zona do Euro. Além disso, endossa os protestos do Pegida. Os austríacos, por sua vez, possuem o FPO – Partido Libertário da Áustria, cuja ideologia se sustenta no liberalismo e no nacionalismo. No Reino Unido, o UKIP – Partido da Independência – é de direita populista e eurocéptico e, assim como o FN, luta para se retirar do bloco socioeconômico. Já na Suíça, a União Democrática do Centro (SVP), aderente ao conservadorismo nacional, prega a redução da imigração e critica, severamente, o islã. O surgimento do Pegida é concomitante ao retorno dos movimentos e partidos políticos neofascistas e neonazistas, bem como inflamam o discurso de ódio e o etnocentrismo. Simpatizantes do nazismo crescem cada vez mais na Grécia e na Hungria. O antissemitismo aumenta na Holanda e na própria Alemanha. O partido grego neofascista, Aurora Dourada, em um de seus manifestos deixa claro sua preocupação pelo controle estatal, sobre a economia e toda a propriedade privada. Leia-se: “O Estado deveria ter controle sob a propriedade privada, de forma que ela não seja perigosa para a sobrevivência do povo ou possa manipulá-lo. A economia deveria ser planificada, de forma que sirva à política nacional e assegure a máxima autossuficiência, sem dependência do mercado internacional e controle de qualquer companhia multinacional”. Nas linhas acima, enfatiza-se uma política nacional que controla a economia e se critica uma subordinação ao mercado internacional. Isso nos remete a um nacional socialismo, tal qual Hitler e Mussolini pregavam. Inclusive, os seguidores do Aurora Dourada saúdam o ditador alemão como seu mentor. A música Horst Wessel – hino adotado pelo partido nazista – foi igualmente cantada, em alto e bom tom, do lado de fora do parlamento, em Atenas. O livro Mein Kampf, de Hitler, tornou-se um bestseller na Turquia em 2005. Seja o fascismo de Benito ou o nazismo de Adolf, as ideologias amparadas no etnocentrismo determinam uma maneira particular de reacender este sentimento. A concepção de pertencimento a uma sociedade baseia-se numa imposição à coletividade, na qual todos devem pensar da mesma maneira, por fazer parte de um grupo. A Aurora Dourada, assim como outros partidos europeus, é mais do que resquício, é a herança de uma ideologia inflamada, fonte para um cenário de segregação, ódio e violência. Nota do Editor: Breno Rosostolato é professor de Psicologia da Faculdade Santa Marcelina – FASM.
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