Oculta um beijo carnavalesco. Consubstancia uma das mais bem elaboradas músicas do carnaval brasileiro. Ao mesmo tempo, provocou o retorno das famílias que foram para as ruas em 2013 a seus casulos seguros e um formidável protesto político se transformou numa reivindicação prosaica por alguns tostões nas passagens de ônibus urbanos. Uma brincadeira de bruxos ou bruxas. Neste ano de 2015, uma realidade monstruosa em nossas cidades, inclusive nos pequenos povoados do interior e na detonação de caixas bancários, com disparos de fuzis para o alto para registrar a ocupação dos territórios. Nada de ficção. E, ainda, um símbolo: a coisa aqui está preta. Sim, Chico, genial como Pelé, em sua praia. Nas alheias, suas opiniões são desastrosas. Colaborou nosso maior poeta, cantor e romancista, para o estelionato cara-de-pau de Dilma Roussef. Falar que a coisa ruim é preta é racismo, como diz o Vicentinho. Mas as coisas não estão ruins ou pretas no Brasil, estão completamente deterioradas. Um odor de putrefação irresistível impregna nossos ares gerais, a começar de nossa gloriosa Petrobras. Não bastassem os milhões surrupiados, agora um ensaio de explosão no Atlântico, com lamentáveis vítimas estatais. Ensaio do que poderá ocorrer com a demagógica e imprudente extração do pré-sal nas camadas mais profundas. E já anunciada como esplendorosa vitória na eleição anterior, enquanto iminente qualificação da mesa e da vida de todos os brasileiros. Como disse o povo, mentira grotesca e enganosa. Não há crescimento econômico e a inflação começa a corroer, a ameaçar a casa dos dois dígitos, inferno de nosso passado. A infraestrutura é arena de recreação. A balança de pagamentos pesa contra e o câmbio é outra máscara aterrorizante. Nesse clima, sem educação e saúde de qualidade, sem o mínimo de segurança que o Estado deve proporcionar a seus cidadãos, sem filosofia de governo e propostas estruturais de saída da crise, é natural que se lembre do impeachment. Instituto jurídico-constitucional e não golpe. Há certos impasses institucionais cuja solução exclusiva é a mudança de governo. A própria Chefe do Executivo deveria perceber que estamos num beco sem saída, dentro do qual ela está soterrada e não tem forças para submergir. Nesses momentos, o interesse nacional deve subordinar os individuais, corporativos, grupais e de projeto de poder. Mas, sabemos, cansados, que não é assim, salvo no regime que permite a deposição do Primeiro-Ministro, a dissolução do congresso e a convocação de assembleias gerais. Muito dinamismo para quem se libertou às margens plácidas e cultiva a platitude como valor. Mas hoje é carnaval. Não é de bom tom assombrá-lo de verdade, ainda que falte água para espirrar nas cabeças próximas. Deixemos o divertimento nos fortalecer, se é que não nos enfraquece. Depois do carnaval começa o ano útil no Brasil. Esperemos a conduta do agente principal, o governo e sua base aliada. Quem pariu Mateus que o embale. Se não for possível, aí ingressam as forças vitais do povo e a oposição. O fato é que o Brasil, historicamente surrado, não merece continuar apanhando, sobretudo depois de ter sido vendida a seu povo uma falsa terra prometida, em que dávamos recursos ao FMI e não seríamos atingidos pelo tsunami que só atingiria os “loirinhos de olhos azuis”. Os mais esclarecidos sempre tiveram ciência e consciência que nosso país não estava assentado sobre estacas suportáveis dos vendavais que se aproximavam na tempestade perfeita. É, prezado Chico, o vento que bateu no Chico bateu no Francisco. FHC foi um luxo. A coisa aqui está preta. Lembranças a Marieta e perdão ao Vicentinho. Quarta-feira morrerá Maria com a folia. E na quinta, corajosamente, vamos encarar. Não há remédio. Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado especialista em Direito Constitucional, Civil, Tributário e Coletivo do Trabalho e fundador da Garrido de Paula Advocacia.
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