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Crônicas
28/02/2015 - 10h01
Quarta de Cinzas – Legados do Carnaval
Marina Alves
 

Nos idos de 70, Geraldina e Maria foram cumprir o que, ali em Lages dos Martins, era quase obrigação: conhecer Aparecida do Norte. As irmãs saíram em viagem, na romaria organizada pelo Seu Zico, homem de respeito e tido como o mais “sabido” do lugar.

Para Geraldina o passeio não tinha maiores novidades. Aquela era só uma viagem a mais das muitas que já fizera à famosa cidade de Aparecida. Para Maria, a irmã caçula, sim, era a primeira vez e motivo de grandes expectativas. E como não tinha por costume viajar, a coisa era ainda muito mais emocionante.

Quando chegaram à Basílica, o segundo maior templo do mundo, Maria nem se deu ao trabalho de disfarçar. Mais que rezar aos pés da Santa pagando as promessas e pedindo as bênçãos, o que desejava mesmo era visitar as dependências do majestoso santuário, inclusive a sala dos milagres. Finalmente iria conhecer o local e sua imensidão de objetos e fotos, um convite irresistível ao exercício da imaginação. Cada peça exposta, cada retrato afixado no teto e paredes representava uma graça alcançada por algum fiel. Restava ao visitante apenas tecer à revelia os detalhes de cada fato, de cada caso, de cada depoimento.

Mas nada, nada poderia aguçar mais a imaginação de Maria que a lendária sombrinha suspensa no teto da igreja e a história contada por Geraldina: tinha acontecido durante o carnaval. Uma moça devassa quis zombar de Nossa Senhora. Voltando da promíscua orgia adentrou a igreja com a sombrinha franjada e colorida com que estivera a se esbaldar na festa do capeta.

Geraldina, percebendo o quanto a irmã se impressionava com a história, carregou nas cores do exagero e não poupou detalhes. A mulher, uma mundana, tinha passado a noite na esbórnia, usando roupas escandalosas e a cara cheia de pintura. O capeta gostava destas coisas e tentou a libertina para que fosse ao templo dançar com sua sombrinha carnavalesca. Seguindo os conselhos cochichados pelo Coisa Ruim, lá se foi! Em seus trajes indecentes, a leviana interrompeu o ritual da quarta-feira de cinzas e o inusitado acontecera: a sombrinha de nesgas coloridas foi brutalmente arrancada de suas mãos, por uma força invisível, indo pregar-se no teto. Como um estandarte da luxúria ali ficou grudada, num exemplo a quem ousasse profanar a sagrada morada de Nossa Senhora Aparecida.

Durante muito tempo a história da sombrinha presa no teto permaneceu no imaginário de Maria. Até que um dia, muitos e muitos anos depois, assistindo ao seu canal predileto, a TV Aparecida, ela teve a infame mentira desmascarada: descobriu que a lendária e maldita sombrinha carnavalesca nada tinha de sobrenatural. Era só a Umbela Basilical nesgada nas cores de Roma, e não passava de uma das insígnias que diferenciam uma Basílica das demais igrejas. Ah, que decepção!

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