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Opinião
08/03/2015 - 11h05
Como ser uma mulher e não gostar de cor-de-rosa?
Sabrina Sanfelice
 

Perambulando pelas prateleiras de uma livraria, deparo-me com um livro de capa cor-de-rosa. Uma poltrona, um jarro de flores e um espelho completam a ilustração do que poderia ser um livro de decoração. Mas é nada mais nada menos do que a obra de uma de minhas escritoras favoritas, Virginia Woolf, baseada num ensaio e dois artigos lidos em palestras pela autora para a Arts Society, do Newnham College, e para a ODTAA, do Girton College, em outubro de 1928. São faculdades inglesas da década de 1920, exclusivas para mulheres. Eu poderia dizer que seria uma grande coincidência escrever algumas linhas sobre o dia internacional da mulher se não fosse o fato de que o assunto está tão intimamente ligado ao meu dia a dia, que a cena poderia ser comparada a uma mulher que puxa, quase instantaneamente, uma revista feminina numa sala de espera de um consultório médico qualquer. O que há de incomum num hábito de uma escritora puxar um livro rosa numa prateleira senão o mesmo que uma dona de casa assistindo à novela?

Sim, existe todo um paradoxo entre ser uma mulher e não gostar de cor-de-rosa. Assim como existe a mesma discrepância, talvez de forma mais sutil hoje em dia, de uma mulher que escreve ficção não poder também saber fazer o mais delicioso jantar. E, claro, isso não é verdade. Mas estamos em 2015! E, sim, isso continua verdadeiro de certa forma. Nós, mesmas, mulheres, ainda olhamos no espelho e pensamos: é possível? Caso ou faço uma faculdade? A carreira ou os filhos? Puxam-me daqui, esqueço dali. Quase consigo afirmar que foi a (fictícia) irmã de Shakespeare que balbuciou na cozinha da casa a famosa frase de sua obra Hamlet e deu origem a um dilema que agora traduz todo um gênero e seu papel no mundo.

E o livro de capa pink, intitulado “Um teto todo seu”, que trata de palestras dadas pela escritora com o tema “As mulheres e a ficção”, abre, em outra década, o mesmo leque de possibilidades para refletirmos: trata-se de uma obra sobre as mulheres que escrevem ficção ou é sobre escrita para mulheres? São histórias que falam sobre mulheres ou tudo isso junto? Uma gama enorme de possibilidades que continua apontando para a mesma direção: não seria possível que isso tudo pudesse ser abordado de uma forma única? Woolf diz que tudo que poderia nos dizer seria dar-nos a opinião dela sob um ponto de vista singelo: “uma mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu, um espaço próprio, se quiser escrever ficção; e isso, como vocês verão, deixa sem solução o grande problema da verdadeira natureza da mulher e da verdadeira natureza da ficção”.

São anos, décadas inteiras das mesmas perguntas feitas pelas mesmas bocas pintadas com batons cor-de-rosa. E a resposta é simples, tão simples. A mulher que pergunta é a mesma que tem a escolha. Ela só se questiona porque, lá no fundo, sabe que pode fazer o que bem quiser. Pode dar o braço a torcer e fazer tudo ao mesmo tempo. Pode querer ser livre, leve e solta ou amarrar-se voluntariamente e feliz a uma vida familiar. Pode, inclusive, gostar de todas as cores, gostar de outra mulher. Pode gostar de homem. E pode entender que para ser, basta querer. Assim como o outro gênero, o masculino. A diferença todo mundo já sabe. É que esquecemos, muitas vezes, de falar ou de pensar em igualdade. Mas essa também é uma velha história. E, não, não é ficção. Mas quem sabe um dia não seja apenas um livro rosa numa prateleira?


Nota do Editor: Sabrina Sanfelice é coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Anhanguera de Campinas – unidade Taquaral, fotógrafa e acaba de publicar seu primeiro livro de contos pela Editora Patuá, “Nós Vós Elas”, em que cada história tem o nome de uma mulher.

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