Os rumos do país sob o Governo Dilma
Entramos no terceiro mês de 2015 – não findada sua primeira quinzena – e o Governo Dilma ainda não conseguiu trazer à tona nada que possa ser considerado uma “agenda positiva” para o país. A impressão (ou mais que mera impressão) é que temos uma República à deriva, na qual a Presidente da República apresenta-se como incapaz de se comunicar com a classe política e com a sociedade brasileira. Falta um norte, um rumo a ser traçado. Não faz muito o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, solicitou ao Supremo Tribunal Federal a abertura de 28 inquéritos atinentes à Operação Lava-Jato, mas acabou tendo sido atendido em 21 inquéritos, com crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Na famigerada lista de Janot constam importantes nomes de nosso mundo político. Preocupação maior recai nos Presidentes do Senado Federal, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha. Estes, depois de Michel Temer, estão na linha sucessória da Presidente, ou seja, fato nada alvissareiro. Constam, ainda, na lista, senadores, ex-ministros. Ironia – bem captada pelos jornalistas e nas redes sociais – é o encontro do ex-cara-pintada Lindbergh Farias e Fernando Collor, ambos investigados na mesma seara. Todos que constam na lista merecem o benefício da dúvida, como é sabido, mas terão, certamente, que provar suas inocências. No que tange à já combalida articulação política do Planalto com os parlamentares, temos uma maior deterioração. Renan Calheiros, num ato de afronta ao Governo, rejeitou – há pouco mais de uma semana – a medida provisória (669/2015) que tratava da desoneração da folha de pagamento das empresas, enviada pelo Planalto. Se persistia alguma dúvida de uma péssima articulação política e da ausência de um diálogo de Dilma com o Congresso, tal dúvida se dissipa na recente pesquisa publicada pelo jornal Estado de S. Paulo (08/03/2015, pág. A6). Realizada pela Arko Advice, junto aos parlamentares, traz os seguintes números: a) Avaliação da relação do Executivo com o Legislativo: 50% de péssima e ruim (31% e 19%, respectivamente), 32% regular, 12% boa e 6% não sabem/não responderam; b) Aprova ou desaprova a maneira da presidente Dilma Rousseff governar?: 64% desaprovam, 16% aprovam e 20% não sabem/não responderam; c) Avaliação da política econômica do governo: 49% de péssima e ruim (20% e 29%, respectivamente), 35% regular, 9% boa, 2% ótima e 5% não sabem/não responderam; e, finalmente, d) De zero a dez, que nota dá para a presidente Dilma Rousseff?: a média foi de 3,8 (indo aos extremos – 15% atribui zero e 2% atribuiu nota dez). Mais do que isso, o Planalto já tem notícias de que as últimas pesquisas de popularidade de Dilma chegaram aos piores patamares, abaixo até daqueles aferidos durante os protestos de junho de 2013. Assim, as manifestações marcadas para 15 de março, em várias cidades do país, poderão dar o tom das próximas investidas da oposição, bem como da própria “base aliada” contra a Presidente Dilma. No meio político, os chamados “balões de ensaio” são constantes. Um destes é do impeachment e o outro, mais recente, de uma possível aproximação de Fernando Henrique Cardoso com o Governo para buscar saídas da crise em voga. No primeiro caso, do impeachment, nada de concreto se evidencia, mas, em ações políticas, tudo muda rapidamente e – para ficar nas metáforas marítimas – uma simples “marolinha” pode se tornar um devastador tsunami. Quanto à aproximação de FHC com o governo, tal fato foi rechaçado pelo próprio ex-presidente, afirmando que se aproximação existe, esta deve ser com o povo e jamais com o governo. O Partido dos Trabalhadores, cabe relembrar, foi uma oposição implacável em relação ao PSDB durante os dois mandatos de FHC. Durante o Governo Lula, o PSDB foi uma oposição “perdida”, no sentido que não encontrou o tom para desbancar a popularidade de Lula, presidente dotado de inteligência e carisma muito acima da média. Mas, no Governo Dilma, os fatos são distintos, pois a Presidente não tem nem o carisma e tampouco o poder de comunicação e de negociação de Lula e isso abre espaço para ataques mais duros ao seu governo; ataques, ressalte-se, nem sempre originados no PSDB e sim de seu próprio partido, de seu criador e de seu maior aliado, o PMDB. Nossa República, tal qual um barco sem timoneiro, está à deriva. Isso é perigoso, assaz perigoso: a presidente com incapacidade de liderar, alto escalão da república sob suspeita e investigada e sociedade politicamente eletrizada. O discurso belicoso e de ódio volta à baila, tentando dividir o Brasil e isso, num átimo, pode gerar um curto-circuito social, como visto nas manifestações de junho de 2013. Ser radical, diferente do que se entende no senso comum, é buscar a raiz do problema. E, para isso, a situação reclama inteligência, conhecimento da História e humildade no trato com o pensamento divergente, bem como senso de responsabilidade e o apego à democracia. Não é hora de excluir a política, a hora é de, realmente, se fazer Política. Nota do Editor: Rodrigo Augusto Prando é Licenciado e Bacharel em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia. Professor e Pesquisador do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas, da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
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