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Opinião
28/04/2005 - 07h56
Programa de Índio?
Ricardo Guimarães
 

O rico anedotário popular classifica como "programa de índio" uma opção ruim de lazer. Mas será que a nossa cultura católica e o nosso mundo dito civilizado são mais ricos e originais?

Segundo a FUNAI - Fundação Nacional do Índio, hoje, no Brasil, vivem cerca de 345 mil índios, distribuídos entre 215 sociedades indígenas. Claro que este dado populacional considera tão somente aqueles indígenas que vivem em aldeias, desprezando os que migraram para áreas urbanas - muitos deles em favelas. Há também indícios da existência de mais ou menos 53 grupos ainda não-contatados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal.

Quem conhece a história da colonização da América do Norte já ouviu algo sobre o massacre das tribos indígenas. As colônias inglesas também sofreram horrores com o invasor. Pois bem, nas antigas terras brasileiras viviam mais de seis milhões de pessoas, pertencentes à cerca de 900 povos diferentes. O extermínio de centenas de povos e a destruição de sua riqueza cultural parecem não sensibilizar o brasileiro adulto que insiste em desqualificar os nossos primeiros habitantes.

Enquanto menosprezamos os índios, crianças da etnia guarani-kaiowá morrem subnutridas no Mato Grosso do Sul (MS). Enquanto cresce a aversão aos índios, o capitalismo selvagem expulsa os homens e mulheres de suas terras ou trata de queimá-los em praça pública. Sorrimos com ar de deboche dos índios para esquecer o mal que fizemos à sua cultura.

Mas o que é ser índio? Índio foi a denominação dada aos habitantes das Américas pelos europeus que aqui chegaram. Uma denominação genérica, provocada pela impressão errônea que eles tiveram de terem chegado às Índias. Passados mais de 500 anos do descobrimento, nossa dívida para com estes povos continua imensa. Nossa sociedade ainda insiste em ridicularizá-los.

O então Presidente Getúlio Vargas foi quem assinou o decreto nº 5.540, em 1943, determinando que o Brasil, a exemplo dos outros países da América, comemorasse o Dia do Índio em 19 de abril. Ou seja, no dia 19 de abril, a nossa memória se lembrará de que usurpar a propriedade dos índios através de leis e decretos não constitui uma privação, desde que os confinemos em "reservas".

Não se pode omitir, entretanto, que a Lei 6001, de 19/12/73, sancionou o Estatuto do Índio, que hoje regula a situação jurídica dos índios e que a Constituição Brasileira de 1988, a Constituição Cidadã, foi a primeira a trazer um capítulo sobre os indígenas e com isso alterou a filosofia e a postura que se tinha em relação aos índios e aos seus direitos, reconhecendo oficialmente os índios como povos culturalmente diferenciados e que essa diversidade deveria ser respeitada, sem exigir que eles se adequassem aos hábitos dos homens brancos.

Não foi preciso. O índio de hoje veste jeans, bebe coca-cola, navega na Internet, usa sandálias havaianas, freqüenta missas e aprendeu a tomar remédio alopático. Participa, ainda que desastrosamente, da vida parlamentar. Abandonou, fora das aldeias, o arco e a flecha. Tenta expulsar os invasores (garimpeiros, fazendeiros, posseiros, madeireiros) de suas terras que, em troca das riquezas minerais e vegetais, deixam a gripe, a sífilis, a corrupção e a poluição das águas.

A propriedade privada não cabe na concepção indígena de terra e território, isto é coisa do homem branco. No passado, algumas tribos sacrificavam os oponentes capturados em seus rituais. O ritual do homem branco sacrifica crianças e anciãos em nome do capital. Por isto, a expressão "programa de índio" resulta totalmente falsa.


Nota do Editor: Ricardo Guimarães é jornalista e webmaster. Edita o periódico Folha Marianense nas versões impressa e on-line e o informativo Plenário, da Câmara Municipal de Mariana.

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