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SEÇÃO
Crônicas
22/03/2015 - 10h13
Agora corre pro laboratório...
Antonio Franco Nogueira
 

O olho esquerdo e o lábio superior, de repetente, do nada, começaram a tremer se esticando para o lado esquerdo. Em seguida a maçã do rosto, também do lado esquerdo da face, seguiu os movimentos do lábio e do olho, que agora era seguido pela boca inteira, que sofria puxões enormes e dolorosos, quase a encostando na orelha. Então tudo foi entendido. E, no afã de ser socorrido, começaram-se os gritos intensos, porém poucos, pois não houve tempo para mais do que dois, compreensíveis:

– Estou tendo um derrame, estou tendo um derrame, estou tdfrgtdoobherme...

E cessou-se a capacidade de expressar-me, pois a confusão mental tomara conta de mim, que estava sentado ao volante do meu carro, graças ao BOM Deus, parado, debaixo da palhoça duma barraca de praia. Nesse momento, de dois ou três segundos antes de minha mente entrar em colapso total, pensei que tudo acabaria ali, daquela forma tão melancólica. E só tive tempo de trazer minha mulher à mente, onde me perguntei: e agora, o que será dela? Nem de pedir perdão ao Criador, pelos meus pecados, houve tempo.

Ao me ouvir dizer, ou tentar dizer, o que estava acontecendo comigo, ainda pude ver uma amiga que se encontrava ao pé da porta do carro conversando comigo, gritando outro amigo, para que me acudisse meio que dizendo corre aqui que eu não sei o que fazer.

Com a mente mediamente recomposta, vi um deles tentando me fazer beber um gole d’água no gargalo duma garrafa, me provocando um engasgo, mas que teve o recipiente rejeitado por um sopapo meu, pois aquilo me faria piorar. Em seguida, com gestos, acho, pedi para que me pusessem fora do carro, sentado na areia, agora, porém, desencadeando uma leva agressiva de reações, já que ainda não conseguia falar, pois todos tentavam proceder ao socorro da forma que não só não estava ajudando, mas complicando ainda mais o quadro, pois não conseguia respirar na posição em que insistiam em me manter, quando comecei a me debater – era a absoluta falta de ar. Até que consegui falar, pedindo para que me inclinassem para frente. Onde tudo foi se normalizando aos poucos. E respirei, enfim.

Antes de voltar ao normal, ainda durante a aflição, depois de ‘acordar’, estive consciente por todo o tempo e vendo alguns amigos e amigas apavorados, uma delas chorando com as mãos na cabeça, girando em torno de mim, e outros, acho que por não saberem o que fazer, meio afastados, mas todos dividindo comigo a minha agonia.

Não sei exatamente quanto tempo estive desacordado ou fiquei ali até que um corajoso teve a atitude de dirigir meu carro – que é adaptado para um tetraplégico, mas que não oferece dificuldade alguma para que uma pessoa fisicamente perfeita o conduza, mas que intimidou a turma ao meu derredor a dirigi-lo – e me socorrer.

Passei por três unidades médicas naquele dia. Mas só na visita que recebi da minha médica, doutora Virginia Aroucha, é que soube o que provavelmente eu havia sofrido: um AIT – Acidente Isquêmico Transitório. Ou mini-derrame. Que é uma porta para o tão temido AVC – Acidente Vascular Cerebral, se os cuidados necessários para evitá-lo não forem tomados.

E, considerando o pânico vivido e a iminente possibilidade de dependência de terceiros, somado à queda da qualidade de vida a que pode ser submetido a pessoa que sofre um problema de saúde dessa ordem, e que jamais tive qualquer aviso de que esse alerta, doloroso e agonizante, me ocorreria, mas aconteceu, é que estou aqui, lhe aporrinhando com esse texto.

Sim, aporrinhando, por que para quem despreza o valor duma pequena seringa de sangue enviada a um laboratório, quando se fala em saúde preventiva, e aqui o sentido é generalista – e não apenas ao caso em específico, ou só a quem já madureceu, a gente, se achando o rei-da-cocada-preta no que se refere a estado físico e mental, só pára para escutar a respeito quando leva um puxão do lado da cara, que leva a boca a fazer uma visitinha à orelha e se vê sentado na areia duma praia qualquer, rodeado de gente que, sem saber exatamente o que fazer para socorrê-lo/a, só corre dum lado pro outro, enquanto se implora ao Criador por um sopro de oxigênio nos pulmões...

E a quem possa interessar, estou me recuperando...

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