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Opinião
30/03/2015 - 07h01
Coisas do capeta
Percival Puggina
 

Era natural à cultura da época em que surgiu o mito de Fausto, que certas atitudes consideradas anti-religiosas fossem compreendidas como acordos demoníacos. Foi assim que, em torno da pessoa do alquimista Johann Georg Faust (1480-1540), nasceu o mito do pacto atribuído a ele e aos contemporâneos Paracelsus e Nostradamus. Dois séculos depois, sob a regência da pena de Goethe, Fausto se tornaria figura central de uma das principais obras da literatura universal.

Na história contada por Goethe, as várias tentativas de Mefistófeles para cumprir seu acordo com o cliente Fausto envolveram o conhecimento da verdade, a juventude, a beleza e o poder de sedução. No Brasil do século 21, o pacto mefistofélico desceu vários degraus na direção das labaredas eternas. Aqui, quem fez o pacto mais do que o confessou – anunciou-o publicamente! A presidente da República divulgou sua intenção no dia 4 de março de 2013 quando, em João Pessoa, afirmou: “Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”. Ela não estava num laboratório de poções fumegantes, entre besouros secos e asas de morcego, mas num encontro com prefeitos paraibanos e beneficiários de programas sociais.

Veio a campanha e o diabo foi feito. Diferentemente dos anteriores acordos mefistofélicos, elevados anseios humanos não fizeram parte do negócio. Não houve interesse por uma longa juventude. Menos ainda desejo de acesso à sabedoria e à verdade. A primeira se manteve tão inatingível quanto antes. A segunda inviabilizaria a vitória eleitoral. O negócio com o diabo visava a obter mais quatro anos de mandato. Ponto. O resto da história vocês todos conhecem. O Pai da Mentira fez o que lhe correspondia. Trabalhou eficientemente, contando com a melhor assessoria que o dinheiro podia comprar. Na hora final, no tudo ou nada, quando se contaram os votos no Teatro de Comédias Brasil, caiu o pano sobre o palco e tudo se fez às ocultas, no silêncio da coxia. Desde o canto onde estava jogado, apenas um inerte polichinelo de pano presenciou àquele enorme segredo.

Leio e ouço explicações. Por serem tantas, revelam não haver uma que preste. Firmo solidamente minha convicção. O ocorrido foi coisa do capeta, que, convenhamos, fez sua parte. A presidente conseguiu o que queria. Mas – desculpem-me a divergência – o Brasil não pode ir de cambulhada num negócio desses. Que Dilma e Mefistófeles se acertem como puderem, mas nos deixem de fora, não é mesmo, senhores congressistas?


Nota do Editor: Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

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