O papa anterior foi um grande religioso e, principalmente, um grande líder! Lutou pela paz de forma corajosa, iniciou um diálogo tolerante (e importante) com as outras religiões, pediu perdão ao mundo por alguns dos mais graves erros da Igreja Católica (e que até então eram vistas como tabu pelo Vaticano) e realizou mais de cem viagens, transformando-se no “Papa Peregrino”, como todos devem saber! Foi, contudo, opositor de inovações que podem resolver ou, ao menos, amenizar alguns problemas da atualidade. E para não polemizar tanto, até excluo a questão do homossexualismo. João Paulo II era contra, por exemplo, a camisinha como mecanismo de combate à AIDS, o aborto como amenizante do sofrimento de gestantes com fetos anencefálicos (sem cérebros), a pesquisa com células-tronco embrionárias em prol da melhoria de vida de portadores de doenças congênitas e a ordenação de mulheres. Mudanças de pensamento deste tipo são difíceis numa Instituição milenar como a Igreja Católica. Um papa que se propusesse a esse desafio teria muitas resistências internas e um caminho lento e gradual a percorrer. O problema é que a vitória da ala ultraconservadora, representada pelo alemão Joseph Ratzinger (leia-se agora Bento XVI), em detrimento de uma ala mais moderada e liberal, representa a confirmação do alto-clero em querer permanecer seguindo os mesmos dogmas e condutas do antecessor. O atual papa é aquele que deu uma de censor em 1985 e impôs voto de silêncio ao teólogo brasileiro Leonardo Boff, por discordar da Teologia da Libertação defendida pelo então frei. Atitude preocupante para quem passa a ser o líder espiritual de mais de um bilhão de fiéis espalhados por todo o planeta. Com experiência e conhecimento para falar do assunto, portanto, Boff disse logo após saber da decisão do conclave que "com esta escolha a Igreja permanecerá por mais um tempo em seu atual estado hibernante". Nunca é demais ressaltar que ele não se referia à diminuição do número de fiéis (apesar disto também ser uma conseqüência), mas da insistência em idéias e pensamentos medievais que a Igreja Católica persiste em cultivar. Nota do Editor: Phelipe Caldas Pontes Carvalho é jornalista recém-formado pela Universidade Federal da Paraíba.
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