A espartana Dilma Roussef, mulher beligerante e não dada a reflexões profundas, presidiu nosso país com a espada, até hoje. Todos sabem que sempre subestimou, de modo constrangedor e ruim para a política nacional, seus quase quarenta ministros. As decisões são somente suas, esmagadoras, unilaterais. Seria de perguntar-se porque, então, gastar tanto dinheiro de nosso impoupado erário, que faz com que trabalhemos meio ano para sustentar o Estado, para manter tantos e crescidos ministérios inúteis. Meu pai, caboclo simples, dizia que o Brasil precisava de uma mão forte. Outros simples repetiam o bordão, sobretudo nos bares. Sabemos que não é assim. Problemas complexos do mundo contemporâneo desafiam correntes de inteligência, num ambiente livre; são indiferentes à força bruta e continuam nos comprimindo. Nas cordas, a guerreira viking, ao ver-se na iminência de ser derrotada por um povo em ebulição indignada, procura saídas para um governo que mal começou. O grande exército persa de Dario III viu-se batido pelo menor número de Alexandre na batalha de Isso, em 333 a.C. (os números parecem sincrônicos). A força rendeu-se à inteligência. Não estamos dizendo que, de um momento para outro, Dilma transformou-se em Péricles, passou de espartana a ateniense. Ela simplesmente percebeu que seu governo só tem condições de subsistir se suas principais instituições estejam sob titulares de homens sábios, experientes, movidos por engenho e arte. Ainda que não sejam filósofos, amantes do saber, mas não, do patrimonialismo sem limites e de projetos de poder. Daí a nomeação de Joaquim Levy para a Fazenda. Apontemos duas medidas adotadas por ele que realizam a necessária política de austeridade sem desgastar ainda mais a sofrida vida do povo. A conversão do BNDES num banco que não entrega dinheiro fácil a juros fortemente subsidiados numa instituição que apenas dá o impulso primeiro a empresas que, depois, emitem debêntures, para sustentação de suas atividades e ganhos dos investidores a médio ou longo prazo. Verificar se há fundamentos sólidos para investir é problema dos investidores, que poderão ganhar ou perder muito. O risco privado é muito mais lógico que as ideias simplistas de tributar grandes fortunas ou heranças, com a consequência de fomentar ainda mais a corrupção. Outra é a discussão que travou com o Presidente do STF sobre as milhares de execuções fiscais que entopem nosso judiciário, não fazem rendas oportunas à Fazenda e demonstram uma crise tributária das mais graves do mundo. A reforma é imprescindível, mas dar cabo a essas execuções fiscais, com dinheiro aos cofres públicos e alívio dos cidadãos executados, é medida de urgência. A indicação do filósofo Renato Janine Ribeiro, não para construir mais prédios escolares ou melhorar as relações laborais dos professores, o que certamente ele fará, porém no interior de um conjunto de ideias que possam resgatar o que já foi próprio da escola pública do Brasil: o desenvolvimento do pensamento crítico, o desabrochar do gosto pelo saber de nossos jovens, a substituição de literais rasteiras com que jovens adolescentes fazem chorar suas humildes professoras, por um novo relacionamento, em que, sobretudo, a esperança num mundo aprazível, digno de ser vivido, volte a estimular os cérebros desses jovens. Janine certamente sabe que Aristóteles dedicava pelo menos meio-dia de sua existência para se voltar para o povo, ensinar desde culinária a bons modos de viver. A especulação profunda ficava para as tardes ou noites, com os iniciados. Seu pensamento orientou o mundo por dezesseis a dezessete séculos. A opção pelo Ministro do STJ, Mauro Campbell Marques, para ocupar a vaga deixada na Corte Suprema por Joaquim Barbosa, no lugar de um advogado da CUT, sem desmerecer o prezado colega, é outra demonstração de que a presidente migrou para Atenas. O governo dos filósofos, de que falou Platão, pode nunca ter-se realizado; pode ser considerado elitista; mas, em nosso modo de ver, é uma boa proposta, num momento paradoxal, em que grandes conquistas científicas cedem lugar a mediocridades voltadas para a corrupção. É necessário, porém, que a guerreira se contenha. Não se lhe exige que seja uma rainha da Inglaterra, mas deixe o alvitre das soluções (cuja última palavra é dela, evidentemente) e se dedique à sua função precípua, à política, à democracia, esqueça o açodamento das medidas provisórias, salvo nas efetivas urgências, recomponha diálogo com o Congresso Nacional e com o Judiciário. Nesse contexto, vai de embrulho o nefando lulopetismo. Portanto, a conduta da presidente, também, é um ato de libertação. Rompa com o passado da subserviência ao bruxo sindical e seus jihadistas das bandeiras vermelhas. O impeachment poderá vir, se seus pressupostos se fizerem presentes. Será o preço dos erros passados. Mas, neste momento, é preciso encontrar o bom caminho. Parece que ela o vislumbrou. Com isso, não queremos salvar o PT e o governo, contra o qual fomos às ruas. Simplesmente, o resgate dos valores que são o potencial de um grande país, sem graves turbulências em nosso voo democrático. Nota do Editor: Amadeu Roberto Garrido de Paula é advogado especialista em Direito Constitucional, Civil, Tributário e Coletivo do Trabalho e fundador da Garrido de Paula Advocacia.
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