Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que não deixou nenhuma margem a qualquer tipo de dúvida quanto à inconstitucionalidade da intervenção do governo federal em hospitais pertencentes ao município do Rio de janeiro, já é possível se fazer uma primeira análise do comportamento da imprensa quanto ao fato. O primeiro aspecto, que se destaca, foi que o tempo dedicado à cobertura do tema nas TVs atingiu cerca de 14 horas, em 30 dias de intervenção, representando um espaço maior do que o dedicado aos atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos. Na liderança, naturalmente tivemos a TV Globo, com os seus telejornais, principalmente os locais - "Bom Dia, Rio" e os RJTV 1 e 2 - dedicando boa parte de suas edições ao tema saúde. Os jornais também não deixaram por menos. Afinal, qual tema mais carregado, por si mesmo, com dramas tão humanos? A estes dramas, juntou-se outro aspecto, que tem corroído o nosso jornalismo: o sensacionalismo, no caso aliado a ações plenas da mais pura e legítima demagogia. No entanto, o pior de tudo é que a imensa maioria dos veículos de comunicação não percebeu, ou não quis aceitar, que a questão principal que estava em jogo, bem mais, muito mais que uma pretensa preocupação do governo federal com a saúde da população, era o respeito à Constituição. Ou melhor, a subordinação pelo governo federal às regras do Estado Democrático de Direito. Em sã consciência, ninguém, muito menos jornalistas, podia dizer que a saúde na cidade do Rio encontrava-se em "calamidade pública", comparada a qualquer município da Baixada Fluminense, para não falar em cidades do Norte ou Nordeste do país. A cobertura da maioria dos jornais foi sempre tendenciosa e manipuladora. No caso do O Globo, com seus editoriais e mini-editoriais simplórios e primários, o que tivemos foi uma recaída autoritária. Afinal, para um veículo que sempre apoiou a ditadura militar, não havia nenhum problema, de ordem ética, em aplaudir uma ação inteiramente inconstitucional e, o mais grave, que representava um grotesco atentado à democracia. Ao contrário do que o jornal O Globo acredita, e publicou como mini-editorial, a intervenção no Rio de Janeiro não foi um jogo de futebol, que teve como resultado Lula 1 x 1 Cesar Maia. A ação federal na "Cidade Maravilhosa foi, isto sim, um atentado à democracia, com uma manipulação vergonhosa das necessidades concretas da população." O que todos tememos, agora, é que o brilhante ministro da Saúde, Humberto Costa, leve ao presidente Lula uma proposta de destituição dos 10 ministros do STF, que votaram contra a intervenção no Rio. A exemplo do que fez o recém-deposto presidente do Equador, Lucio Gutiérrez. Nota do Editor: Marcus Miranda é jornalista e subsecretário de Comunicação Social da Prefeitura do Rio de Janeiro.
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