Estamos, mais uma vez, à véspera de um evento de grande porte e sem liderança, pelo menos explícita. Valendo-se das redes sociais, o povo é mobilizado a voltar às ruas para protestar contra a presidente da República e pedir a sua saída. Na primeira manifestação, dia 15 de março, marchou-se pelo “impeachment”. Agora o mote é a renúncia ou a cassação do mandato. Pela ausência de comando, é impossível prever, com antecedência, qual será o nível de adesão ao segundo à revoada, chamada para o domingo, dia 12. Segundo a cultura democrática pregada exaustivamente ao longo das últimas três décadas, o povo tem todo o direito de se manifestar contra aquilo que o incomoda. E tem mesmo! A própria presidente tem repetido isso desde que começou a ser alvo do descontentamento em massa. É atacada pelo conceito que serviu de base – pelo menos da boca para fora – ao seu proselitismo. Típica situação em o criador é ameaçado pela criatura, ora representada pelo povo cujo direito de protestar foi cultivado como pérola política. Objetivamente, temos de entender que Dilma foi eleita e detém um mandato que se estende até 2018. Da mesma forma que tem o poder lastreado no voto, é portadora de obrigações de gestão do Estado brasileiro que, constitucionalmente, é composto por três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – independentes e harmônicos. Para conquistar o segundo mandato, fez promessas que não vem honrando, talvez não por querer, mas por impossibilidade. Sem a certeza de poder cumprir, não deveria tê-las feito, mesmo diante da possibilidade de perder a eleição. Como prometeu e não cumpre, é alvo da insatisfação popular. O presidente não pode mentir. Essa é uma máxima que rola mundo afora e já derrubou governantes. Richard Nixon, que nos anos 70 renunciou à presidência dos Estados Unidos ao final do “Escândalo Watergate” talvez seja o exemplo mais claro: foi forçado a sair não por ter promovido a espionagem ao comitê dos adversários, mas por, ao ser perguntado, dizer desconhecer o fato. Convenhamos que, no Brasil, há um bom tempo, os governantes insistem em dizer que “não sabem de nada”. Mas o povo mostra que não é bobo. Dilma é alvo da torrente de protestos. Luta para vencê-los, governar e continuar parecendo democrática. O que vier a acontecer nesse domingo, será o indicativo da direção de para onde está seguindo o país. Espera-se que, independente do rumo a tomar, tudo transcorra dentro da ordem pública e do respeito à integridade do indivíduo. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|