Todos se sentem inconformados com os grandes escândalos divulgados nas mídias, mas poucos se atém aos pequenos deslizes e corrupções que preenchem o nosso cotidiano. Os infratores até chegam ao cúmulo de se fazerem de vítimas de se acharem nos seus direitos. Um exemplo: há algum tempo, já tem mais de um ano, escutei seguidamente um canto de passarinho que vinha da minha calçada. Sei que não é normal isso, sobretudo onde tem sempre gente circulando. Saí para ver e constatei a minha desconfiança: o vizinho se achou no direito de pendurar a gaiola no meu canteiro, no galho de resedá. Imediatamente eu pedi que a retirasse. “Eu não admito isso. Vai fazer o que você quiser no seu espaço”. Nesta semana que passou, depois de muito tempo, novamente a coisa se repetiu. De novo eu chamei o fulano e pedi que retirasse a gaiola. Agora, preste atenção à sua fala: “Ó, me desculpe, eu não sabia que estava atrapalhando”. É lógico que está! Está porque sou eu quem cuida e quem paga pelo espaço da calçada. Está porque foi reincidência; já sabia que eu não compactuo com pássaros engaiolados. Está porque nem sequer imaginou que precisava solicitar o uso de espaço que não é dele. Na verdade, as árvores que mantenho na calçada, são símbolos de resistência após tantos passantes que as maltratam no cotidiano. São essas “pequenas corrupções” que me causam maior insatisfação moral. Então está certo o Walcyr Carrasco ao dizer que “a corrupção maior é apenas a expressão de um tipo de vida que achamos até normal”. José Ronaldo dos Santos ronaldo.jrszero@gmail.com
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