Mas então é assim? Trabalhar o dia inteiro, correr para cumprir todos os compromissos, mal ter tempo para uma pausa e, ao final de tudo, quando se espera pelo menos o consolo de uma boa noite de sono, não conseguir dormir? Recuso que seja assim, e por isso ainda me esforço mais uma vez, viro para o outro lado, troco o travesseiro de lado, faço o diabo: e não consigo dormir. Já se passou uma hora desde que me deitei e a minha noite já está comprometida. Se fosse apenas a noite! O meu dia de amanhã já está comprometido! Tenho delírios, começo a pensar em pedir ao meu chefe uma manhã de folga para dormir.

Súbito, tenho uma revelação: eu não vou conseguir dormir, nem nesta noite nem nunca mais. Será mesmo possível que algum dia eu volte a dormir? Se não consigo hoje, o que me garante que consiga depois? O tempo vai passando, eu ligo a televisão, abro um livro, ando para lá e para cá, me esforço para bocejar, como quem diz para o sono “venha, venha”, e quando acho que já estou em condições de tentar outra vez, torno a me deitar: em vão. Tenho então um pensamento, o de que todos os suicidas tomaram essa decisão em uma noite de insônia.

Vêm até a minha mente então as palavras de Jesus: “E tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei”. Ora, tudo é tudo, todas as coisas, então isso naturalmente inclui dormir. Tenho então um rompante de humildade e digo a Deus que eu podia estar pedindo casa, carro, mulher para casar, Ele sabe mais o quê, mas estou pedindo apenas por algumas horas de sono. Com isso eu esperava cair desfalecido imediatamente, prostrado por um sono tão profundo que o Senhor poderia até mesmo tirar uma das minhas costelas que eu nada perceberia.

Como isso demorou a acontecer, tratei de facilitar as coisas e voltei a me deitar. Prometi não ficar olhando para o relógio, tentei relaxar, deixar o pensamento correr. E depois disso não sei o que aconteceu, só sei que às cinco da manhã o vizinho começou a barulheira e me acordou.