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SEÇÃO
Crônicas
16/04/2015 - 09h00
Herança dos portugueses
Beatriz Cruz
 

Estávamos nos Alpes franceses junto com o grupo de bolsistas estrangeiros. Durante o jantar, a uruguaia que tinha vivido em Florianópolis, muito interessada em recordar-se das coisas de nossa terra, conversava animadamente conosco, em francês, naturalmente. De repente perguntou: “A que horas vous jantez lá no Brasil?” Embora estivesse tomando sopa, engoli em seco, disfarçando o riso. Digo isto porque não existe o verbo janter ao qual ela se referia. A moça nem percebeu e continuou a tagarelar, misturando francês, espanhol e português.

Mas alguns tailandeses que também se encontravam em nossa mesa perceberam que algo estranho tinha se passado. Estavam curiosos e um deles arriscou:
– É português a língua do Brasil, não é?
– É sim, respondi logo, contente por ele não ter dito espanhol ou brasileiro.
– Vocês sabem que os portugueses estiveram na Tailândia, há muito tempo...
– Claro! Antigamente eles andavam por toda parte.
– Então, eles até deixaram umas palavrinhas em nosso vocabulário.
– Ah, é? Fiquei curiosa. Por exemplo...
– Pinto.
– Como???! José e eu perguntamos em uníssono. Queríamos nos certificar de tínhamos ouvido bem.
– Pinto, repetiu o rapaz com a cara mais cândida deste mundo.
– E o que quer dizer? perguntou José um tanto sem graça.
– Quer dizer... você sabe... aquilo... aquilo... Não sei como é em francês.
– Aquele negócio... aquilo que serve para... para...
– Aquele negócio que serve para carregar comida, finalmente um deles explicou.
Ah! Deve ser a marmita, pensei aliviada.

– Em nossa terra chamamos isto de marmita, expliquei.
– Não se chama pinto, em sua terra?
– Não, não.
– E pinto, não existe?
– Existe, disse José.
– E o que quer dizer? queriam saber os tailandeses.
– É... quer dizer... é um sobrenome. Em Portugal também.
– Eu não entendo, disse um dos rapazes, no Brasil vocês não têm pinto?...

Mais uma vez José e eu trocamos olhares, morrendo de vontade de rir. Não tínhamos coragem de seguir com a conversa, mas também não podíamos deixá-la morrer assim, sem mais nem menos. Afinal de contas, o assunto era delicado.

– Ah! disse eu após ter tido uma idéia. Acho que encontrei uma explicação! Deve ter existido um senhor Pinto, português que vivia na Tailândia e como ele trabalhava longe de casa, carregava seu almoço na marmita. Mas o povo de lá não conhecia a marmita e logo todo mundo começou a dizer que também queria aquele negócio igual ao do senhor Pinto. O negócio do senhor Pinto, o negócio do Pinto, o Pinto, aquele negócio... a frase foi se encurtando. E o nome do negócio acabou virando pinto. Só pode ser!
– Você tem razão, é bem possível... disseram alegrinhos os tailandeses.

Nós também ficamos alegrinhos e pudemos, enfim, mudar de assunto...

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