Está na moda na grande mídia, agora, entrevistar o jovem Kim Kataguiri do auto-intitulado “Movimento Brasil Livre”, que diz aceitar todo financiamento que receber de empresas para ser “anti-governo”, anti-PT, anti-esquerda, anti-Estado na Economia, a favor do mais puro “liberalismo”, ou seja, ninguém interfere no que os donos das empresas decidirem, liberdade total para as multinacionais etc. Ouvindo sua fala, dá para perceber os riscos de ser “anti” alguma coisa, porque isso cria ídolos de barro que falam bonito para criticar sem ter nada de novo, ou de construtivo, para oferecer. Eu posso não gostar da Dilma, mas não preciso ser “anti” governo. Ser anti-participação do Estado na Economia é o mesmo que faz a oposição ao Obama nos Estados Unidos, que tentou impedir o plano de saúde pública do governo para os americanos, com argumentos tipo esses do Kataguri que “é o mercado que resolve”. É fácil criticarmos o SUS e suas deficiências, mas tente uma consulta no sistema privado de saúde e veja quanto custa. Claro que o SUS deve melhorar, mas mesmo sendo muito deficiente ainda presta um serviço inestimável a quem não tem acesso à saúde privada. No mundo maravilhoso de Kim tudo é o mercado, o mercado resolve tudo, seria quase a abolição dos governos e sermos dirigidos só pelas empresas, o que transforma o seu patrão no novo governante do país, sem mediadores. Se você tiver um patrão justo e solidário muito bem, mas quem disse que todos os patrões são obrigados a serem justos e solidários? Falando sério, generalizações não são sérias. Do mesmo modo como ouvimos militantes do Psol “demonizando” empresários muitas vezes, sem distingui-los, agora vem o Kim para endeusá-los, genericamente também. Como se fosse tudo igual, como se todas as empresas e empresários fossem suspeitas, para a esquerda radical, ou heroínas, para Kataguiri, jovem na idade e velho nas ideias. Desde que Adam Smith no século XVIII glorificava a “mão invisível do mercado” e a ele se contrapôs Marx no século XIX com os interesses de classes, até chegar ao século XXI, algo devemos ter aprendido. No país de maior “economia de mercado”, nos Estados Unidos, o governo na crise econômica de 2008 teve de ajudar as empresas, mas, em contrapartida, estabeleceu condições, por exemplo a indústria automobilística não demitir e produzir modelos menos poluentes. Já no país mais estatizado do mundo, a China, o Estado passa a conviver cada vez mais com o empreendedorismo local e internacional. O mundo está convergindo para a convivência entre Estado e empresas na economia, apesar dos “anti” como o Kim. Nota do Editor: Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)
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