Uma das maiores obras rodoviárias já desenvolvidas no Brasil, o Rodoanel apresenta como premissa básica a retirada do transporte de carga das vias de São Paulo, permitindo desse modo uma substancial melhoria do trânsito urbano. O anel rodoviário redistribuirá, por exemplo, o tráfego de 17.000 caminhões que passam diariamente pela Marginal Tietê e que serão desviados para o entorno da região metropolitana. O alcance da construção, entretanto, vai além das consequências positivas para os usuários das vias urbanas e das rodovias que circundam a capital paulista. Há em andamento um legado que transformará o perfil de obras futuras. Parte desse legado diz respeito aos cuidados estruturais de engenharia para desenvolver um empreendimento dessa magnitude na Serra da Cantareira, único maciço terciário de São Paulo e um dos poucos do Brasil. As características geológicas do trecho norte criaram demandas específicas que exigem soluções inéditas. Associadas a medidas sociais e ambientais que norteiam o projeto, essas soluções alçam o Rodoanel ao patamar de mecanismo fundamental para, mais do que melhorar o trânsito, tornar-se um dos projetos mais bem sucedidos no âmbito das grandes obras públicas. Por sua vez, o desafio de integrar o empreendimento ao cotidiano das populações envolvidas foi vencido ao permitir avanços poucas vezes observados na história das grandes construções, como a própria remoção de milhares de famílias, muitas delas vivendo em condições precárias e agora levadas para habitações adequadas. Portanto, o Rodoanel não pode ser discutido apenas sob o ponto de vista de benefícios para o tráfego, mas deve abranger também seu legado maior, que é pautar o futuro das obras públicas a partir de suas novas concepções sociais, ambientais e de engenharia, integradas e desenvolvidas para garantir melhor qualidade de vida para as populações de nossa metrópole e para todos aqueles que dependem de seus sistemas viários e rodoviários. Nota do Editor: Pedro da Silva é diretor de engenharia da DERSA.
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