Domingo próximo será o DIA DAS MÃES, que, no Brasil, ao menos, é mais importante que a Descoberta, Independência, Tiradentes, Páscoa, República, Dia do Trabalho e muitas outras datas badaladas, exceto Natal e Ano Novo. Afinal, mãe é mãe e nem o nosso próprio aniversário é tão repleto de significados. Azar dos pais, que, muitas vezes, não tocaram e nem carregaram o piano, abandonando as companheiras num concerto solo, por isto ou por aquilo: a “categoria” toda acaba pagando o preço. De qualquer modo, teorias sociais à parte, mãe é a que gera, amamenta, aquece, acarinha, consola, embala, cuida e se joga de corpo e alma na missão. É a força telúrica, a inspiração, a emoção em estado puro. Isto deve bastar. Na continuidade do clima festivo e suas diferentes liturgias, quero repetir uma história cometida por minha falecida mãe, Maria do Carmo, que bem revela a sua conhecida espontaneidade. Vale também como homenagem especial que desejo prestar-lhe. Há algum tempo, num dia qualquer da semana, após o horário de almoço, fiquei retido por outros compromissos e cheguei pouco mais tarde ao ofício. Estava já a lidar com documentos e chatices várias, quando um colega advogado, que trabalha ao lado, muito circunspecto, veio anunciar que minha mãe havia ligado. Ora, a “velha”, então rondando os 87 anos, tinha saúde muito delicada, embora fosse pessoa de personalidade marcante e temperamento forte. Como não costumávamos nos falar a toda hora, preocupei-me, é claro, e apanhei o aparelho para ligar de volta. O colega prontamente me interrompeu: “Não, não liga, já resolvi o assunto”. Fiquei um tanto espantado, ele explicou: “Tua mãe perguntou se era do teu escritório (eu trabalhava, então, numa organização bem grandinha) e confirmei; ela quis saber de ti, disse que ainda não havias chegado, coisa e tal, aí ela perguntou se eu entendia de futebol. Fiquei um tanto sem jeito, estou habituado a responder consultas de diretores e gerentes sobre questões jurídicas, mas falei que entendia mais ou menos. Então, ela me indagou como se chamava o goleiro do São Paulo Futebol Clube. Graças a Deus, eu sabia que era o Rogério Ceni. Ela ficou faceira e disse que era isso mesmo: estava fazendo palavras-cruzadas do jornal e faltava-lhe justamente esta informação, que não estava lembrando”.
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