Na história da evolução social, há momentos “anti” que são catarses coletivas, às quais se sucedem novas formas de horror. Reis são decapitados e sobrevém novos tiranos, ou mesmo a restauração dos antigos regimes. É o risco de surfar na onda do “anti”, de se deixar levar pelas paixões de vingança e, tudo mudando, nada mudar. Nosso cérebro é atraído por sensacionalismo, dramas, polêmicas, passionalidade, vide programas de TV e vídeos que bombam na internet. Em contraste, ações que promovem consciência social e evolução cultural não são emocionantes, nos deixam impacientes. Gostamos de mudanças imediatas, impactantes, se não gostamos de algo, que se mude tudo rapidamente, sem maiores cuidados – “jogando fora a criança junto com a água do banho”. Sim, há Revoluções necessárias, marcos históricos, mas não há avanços sem uma nova cultura, processo menos emocionante, mas mais sólido. É o momento “pós”, que vem depois do “anti”. Vivemos um momento anti-PT e anti-política de modo geral, com a população saturada de informações sobre corrupção. As esquerdas também gostam de ser “anti” e tudo que o Obama fizer será condenado, não importa o que ele faça, afinal é um ianque. Ao distender relações com Cuba, disseram intelectuais de esquerda que é “o imperialismo seduzindo”, se não tivesse distendido seria o imperialismo castigando. Nesse mesmo modelo de “anti”, qualquer coisa que o governo brasileiro fizer será criticado pelos anti-petistas. O petismo se forjou na participação de camadas mais amplas da população na vida política, sindicatos, entidades estudantis e classistas, movimentos da sociedade civil, amplos setores populares e das classes médias mobilizados contra a espoliação do patrimônio nacional pelas privatizações tucanas e por um Estado a serviço da sociedade, não dos monopólios. Quatro gestões depois, as classes médias se sentem traídas pelo uso partidário da máquina pública, pelo conluio do governo com os mesmos grupos monopolistas – estão aí as grandes construtoras, rés no mesmo processo da Petrobras – as alianças fisiológicas e os jogos de poder que motivaram a construção dessas forças políticas “anti” o que estava lá. A banda “Paralamas do Sucesso” nos anos 90 eternizou esse momento na música “Luís Inácio (300 picaretas)” quando o então líder popular criticava a degradação moral do Congresso. O governo do “anti” está esgotado. E a onda anti-petista, agora, é como correr em círculos atrás do próprio rabo, vamos dar um círculo completo ou voltar para trás? Cabe um balanço de avanços institucionais – o Estado de Direito, a Polícia Federal, o Ministério Público, além dos bons programas sociais – e exigir a “despartidarização” do Estado, até termos governos realmente “republicanos”, em prol de toda sociedade. Nota do Editor: Montserrat Martins, colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)
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