O emprego de melhor relação custo-benefício existente no Brasil deve ser de redator do programa "Caceta e Planeta". Como diz um outro humorista, Zé Simão, este é o país da piada pronta. Mas há piadas que deveriam doer no nosso orgulho de brasileiros, se é que isso ainda existe, quando nascem diretamente do comportamento de presidentes que, para todos os efeitos, projetam a nossa imagem no mundo e queiramos ou não, nos representam. Lembro-me que o Presidente Sarney levava os encantos da sua verve poética - Os Marimbondos Embriagados, ou algo assim - para divulgar nos países que visitava. Lembro-me da limousine branca multada nos Estados Unidos, do seu "portunhol", apenas superado pelo Wanderley Luxemburgo, e o mote de "tudo pelo social" que uma rede de motéis nordestinos adaptou para "tudo pelo sexual". Depois veio o "Indiana Collor", como apelidado pelo Bush pai, que toda semana embarcava em uma aventura: ora era num caça da força aérea, depois num submarino da marinha, "jet-sky" no lago Paranoá e até alguma reunião com o Vice Itamar, o que deve ser coisa de causar brotoeja em cascavel. Este, por sua vez, ao sucedê-lo, teve os seus dias de glória fazendo a alegria dos fotógrafos ao convidar jovens desinibidas para o seu camarote no carnaval. Embora cada entrevista provocasse taquicardia no pessoal do mercado de capitais, sua passagem pelo governo não chegou a causar maiores danos porque nunca entendeu muito bem o que estava acontecendo. A maior piada, neste caso, é que virou diplomata. Vamos pular Fernando Henrique pois, embora tenha lá os seus defeitos, no que se refere a dar vexame foi um considerável refresco. Já o atual presidente vem produzindo uma antologia de gafes que retoma com ganho as tradições suspensas. Seus improvisos fariam corar o próprio Conselheiro Acácio e para o futuro é de se pensar em publicar uma coletânea ilustrada. Por que ilustrada? Ora, apesar de que ainda estou esperando pela visita à Escandinávia, com seus chapéus típicos, a cada viagem o homem nos surpreende com um novo visual. Agora, recentemente, abri o jornal e vi um barbudinho embrulhado numa cortina. Pensei, imediatamente: "Senhor Lula, eu presumo"... Aqui, interrompo para explicar a razão desta frase, porque se o nosso presidente cumpriu uma missão na África, não é o primeiro caso de missionário meio perdido por lá. Pelos idos de 1870, como o famoso missionário e explorador escocês, Dr David Livingstone estivesse há 3 anos desaparecido e não se soubesse, sequer, se estava vivo ou morto, a Royal Geographic Society de Londres, com o apoio financeiro de um editor de Nova Iorque, enviou uma expedição à África sob a responsabilidade de Henry M. Stanley para encontrá-lo. Nasceu, então, a mais clássica referência histórica à estereotipada fleuma britânica. Quando Stanley, em novembro de 1871, já um tanto maltratado após cerca de ano e meio de buscas, febres tropicais e perigos de todo tipo, às vezes caçando e às vezes sendo caçado, finalmente localiza o Dr Livingstone próximo ao Lago Tanganica, entra no aldeamento, vê o europeu de barbas grisalhas lá trabalhando e se aproxima. Tira o chapéu e diz: "Dr Livingstone, I presume." Ora, neste caso também, era mesmo Buana Lula em mais um périplo pela África, supostamente em busca de grandes oportunidades de negócios para o Brasil. Nada contra, mas a viagem parece ter sido um tanto atabalhoada e, sem querer menosprezar, acho que a maioria desses lugares tem pouco o que vender e pouco dinheiro para comprar. De qualquer forma, acho que seria mais indicado nossos empresários perscrutarem as oportunidades de negócios sem que o presidente precisasse levar a luz dos seus improvisos até o local. Mas aí ele e o outro barbudinho que comanda a diplomacia não poderiam cabalar votos para a obsessão infantil de obter uma cadeira cativa no Conselho de Segurança da ONU. Na visão deles, creio, o carisma do nosso estadista pode seduzir os líderes dessas diversas nações, auxiliado pelo perdão de dívidas e outros gestos de boa vontade. É uma espécie de safari publicitário e eleitoral, mas só o futuro dirá se é ou não uma boa tática. Nenhum outro estadista de porte poderia cumprir um programa tão diversificado: deu uma canja na percussão, cobriu-se com roupagens típicas; brindou a todos com a sua filosofia popular e num momento de apoteose, visitando um antigo centro de expedição de escravos, chorou e pediu perdão em nosso nome. Bem, não tenho dúvidas quanto à perversidade da escravidão, nem sobre o quanto a longa manutenção dela foi ruim para o país, mas não me sinto minimamente culpado e já que a coisa passou, melhor olhar o aspecto positivo que é a nossa espetacular miscigenação e a riqueza de talentos humanos que isso nos propicia. Pedir perdão lá, é como se um morador de Copacabana fosse ao Supermercado, chorasse, e pedisse desculpas porque seus supostos antepassados foram ótimos clientes. Há líderes tribais que lamentam até hoje o fim do negócio. Se queremos fazer uma homenagem ao sofrimento dos antigos escravos que foram preados por outras tribos e negociados com os traficantes que aqui os venderam, melhor ficaria um agradecimento sincero e merecido. Poderia agradecer a maravilhosa contribuição humana e o enriquecimento cultural que, apesar da injustiça sofrida, esses povos nos trouxeram. Poderia, como fez Joaquim Nabuco, o mais ilustre dos nossos abolicionistas, exaltar a generosidade natural do negro escravo que, apesar de tudo, pouco vocacionado para o ódio, retribuiu com afeição à própria terra que o submeteu e trouxe alegria ao nosso modo de ser. Mas, para isso, seria preciso que o supremo apedeuta tivesse lido Massangana, o que já é pedir demais. Nota do Editor: João de Oliveira Nemo é Sociólogo e Consultor de Empresas em Desenvolvimento Gerencial.
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