Chegou em casa chumbado, à noitinha, cantarolando com voz embolada, “eu bebo sim, estou vivendo...”. A mulher estava uma fera, esperando-o com dois quentes e um fervendo. Era domingo, fizera o almoço nos trinques, uma lasanha caprichada, e ele mais uma vez farrapara, desta vez chegara quase sete da noite. Era a gota d'água. Ele ultrapassara, pensou ela, todos os limites, à vista de todos os moradores do prédio. Com a voz embrulhada gritou: “Bem, bota logo a gororoba que tô com fome e não reclama não, visse?”. A mulher fervendo de raiva disse: “Mô, não vou botar almoço nenhum, a gente vai discutir a relação!”. Ele respondeu arretado: “Se não fosse a Maria da Penha...”. Não terminou, ela pegou o cabo da vassoura e berrou: “Eu sabia que você tava de caso com aquela putinha que mora vizinha da sua mãe, aquela Penha nunca me enganou, você sempre se derrete quando vê aquela piranha”. Antes que ele explicasse que a Penha em questão era a da que tomou o nome da lei, que ia falar brincando em lhe dar uma bolacha e que não fazia isso por causa da lei, levou a primeira paulada, e a zoada comendo no centro. Logo chegou a síndica, uma coroa gorducha muito enérgica, o porteiro, o zelador e alguns curiosos, fizeram o de praxe, o “deixa disso”. Depois do caso explicado tim-tim por tim-tim, a essa altura Mô já curara a bebedeira, e já pedira perdão a Bem, fizeram as pazes. A torcida retirou-se de campo, ele foi tomar banho, ela foi esquentar a lasanha, depois comeram e foram relaxar vendo o final do Faustão e o começo do Fantástico. Bem, foi depois para o quarto, botou o baby-dool dos domingos e chamou: “Mô, vem ver o show da vida aqui no quarto”. Ele foi, era a obrigação dominical de alcova. Enlaçou Bem, e começaram as preliminares, mas Mô de olhos quase fechados só visualizava a tal Penha, foi em frente, mas no melhor da festa, ele sussurrou sem querer: “Ai, Penha, você me mata!”. Trocou o nome na hora errada. Bem correu alucinada para pegar o cabo de vassoura, e tome paulada. Dessa vez todo cheio de hematomas Mô foi levado pro hospital. Passou alguns dias na casa da mãe, e tirou o pé da lama na companhia da viuvinha fogosa Penha. Mas voltou para Bem. Adorava a lasanha dos domingos.