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SEÇÃO
Crônicas
26/05/2015 - 18h16
Naquela tarde de sábado
Henrique Fendrich
 

Era o dia em que achei que fosse morrer – talvez não àquela hora, talvez nem mesmo naquele dia, mas, inevitavelmente, morrer, e a minha morte me pareceu uma injustiça tão grande que eu quis fazer alguma coisa para impedir, nem que fosse apenas sair de casa e dar uma volta, qualquer coisa menos ficar esperando por ela, e então eu saí, naquela tarde de sábado em que não havia sol, mas eu não sabia para onde é que se deve ir quando se quer fugir da morte, e tomei o rumo das praças, das árvores, das flores, porque seria muita crueldade se ela fosse atrás de mim no meio de tanta vida.

Caminhava devagar, desejando que alguém me visse e adivinhasse o que se passava comigo, mas ninguém prestava atenção, e eu só ouvia o canto enlouquecido das cigarras, e também o de alguns pássaros que eu não sabia identificar, e cheguei a presenciar o exato momento em que um deles pulou em uma tina de água para se lavar, coisa que muito alegrou uma mulher que passava, a ponto de se virar para mim e comentar “olha que bonito!”, ao que eu tive que concordar – era mesmo bonito.

Eu pensava em como a natureza ousava ser bonita em um dia como aquele, e logo adiante vi uma quadra de esportes, com um menino e uma menina de oito ou nove anos chutando de gol a gol, e eu fiquei imaginando que coisa feliz era ficar jogando bola ali, e observei que a menina chutava muito bem, e eu fui observando e caminhando, até que o menino deu um chute torto, a bola saiu da quadra e veio exatamente na minha direção, coisa que achei muito natural, talvez até esperasse por isso, e então eu aparei a bola com uma mão e a devolvi com um chute de pé esquerdo, e a bola caiu exatamente nas mãos da menina, que me agradeceu – sorrindo –, e eu segui em frente, como se nada de extraordinário houvesse acontecido, naquela tarde de sábado em que não havia sol, naquele dia em que me desesperei porque achei que fosse morrer, e talvez ainda morresse, mas então aquele dia já teria valido a pena.

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