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Opinião
29/05/2015 - 17h04
Haitianos e a questão racial no Brasil
Marcos Canetta
 

Em 1492, Cristóvão Colombo chegou a ilha que hoje conhecemos por Haiti, e era ocupada por índios arauaques. Os imigrantes espanhóis batizaram o lugar de Hispaniola e escravizaram toda a população nativa até o século 16. No ano de 1697, através do Tratado de Ryswick, foi assinado um acordo entre os reinos de Espanha e França, que deu direito à França de explorar o território e mudar o nome para Saint Domingue. Com o passar do tempo o lugar ganhou dimensões econômicas espetaculares, tornando-se a mais importante possessão francesa nas Américas. O produto cultivado era o açúcar e a mão de obra era a escrava, em particular as oriundas do continente africano.

O processo escravista durou até o século 18, quando em 1791, influenciados pela Revolução Francesa, os negros escravizados, sob o comando do escravo Toussaint L'Ouvertune, derrubaram o regime em 1794. Em 1º de janeiro de 1804 o país tornou-se independente e passou a ser chamado de Haiti. Ato contínuo, o Haiti se transformou na primeira República Negra das Américas, concomitantemente, o primeiro país latino-americano a se declarar independente. Um dos momentos mais conturbados do Haiti se deu em 1957 quando o médico François “Papa Doc” Duvalier foi eleito presidente do país, e institui um regime antidemocrático, ditatorial sustentado por uma repressão militar que matou e perseguiu muitos opositores, inclusive a Igreja Católica.

Historicamente o Haiti sempre foi um país conturbado. Até porque seria insustentável ter na América Latina uma república negra livre e independente. Neste sentido, além de tentativas de dominação por parte de países colonialistas que desestabilizaram o governo haitiano, o país vem enfrentando inúmeros desastres naturais. Nos últimos anos a população sofrida do Haiti já enfrentou dois furacões (Isaac e Sandy), seguidas de grandes inundações na parte norte. A epidemia de cólera no ano de 2010 continua até os dias atuais. Quando o furacão Sandy atingiu o Haiti devastou a agricultura, destruiu mais de 18 mil casas e matou 54 pessoas.

Não podemos desconsiderar que o setor agrícola no Haiti responde por 25% do PIB nacional. Os agricultores do sudoeste do país vieram a perder entre 70 e 90% de suas lavouras. Uma catástrofe desta natureza em um país empobrecido leva seus habitantes a buscarem saídas para recomeçarem suas vidas: uma delas é a imigração. Fato este que já ocorreu com europeus que buscaram o Brasil como suporte para o recomeço de suas vidas. O século 19 foi testemunha deste fato histórico. No entanto, porque será que a aceitabilidade social da imigração negra (haitianos, senegaleses, nigerianos e outros grupos africanos) é diferente?

Um imigrante nigeriano de nome Kenneth Obíonula, de 30 anos, que chegou ao Sul do Brasil recentemente, fala dois idiomas (francês e inglês) além do seu. Parece-me que esta contrariedade em recebê-los não é porque são ignorantes ou incapazes, mas é o fato de serem negros, oriundos de países em crises econômicas, conflitos políticos ou religiosos. Caso esta imigração fosse de pessoas de países europeus, mais uma vez, o Brasil estaria de braços abertos aos mesmos, como já fizeram em passado recente.

A situação mal resolvida na pós-abolição ainda coloca o cidadão negro em espaços de segunda e terceira categorias. Não se discute o papel preponderante do negro na construção do Brasil. Muito menos sua importância na economia, cultura e religiosidade. O racismo ainda resiste aos tempos modernos. Nos últimos anos temos visto ondas crescentes de ações racistas em todo o território nacional. Os homicídios de jovens negros crescem vertiginosamente, chegando a quase 70% do número de jovens assassinados no país. O que falta se debater no Brasil é de que forma iremos vencer este preconceito contra os negros, sejam eles imigrantes ou naturais. O problema não está no imigrante em si, mas na cor de sua pele.


Nota do Editor: Marcos Canetta, é mestre e professor na Faculdade Anhanguera de São José, produtor cultural, líder comunitário e militante do Movimento Negro Organizado de Santa Catarina.

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