Passados poucos dias da escolha de Bento XVI, afora as manifestações esfuziantes da nação católica mundial, ganha destaque aquela que é considerada a principal crítica ao novo Papa: ele é conservador. Contudo, percebo que, pelo menos em grande parte das vezes, tal crítica decorre de três motivações antecedentes que a invalidam: desconhecimento, preconceito ou má-fé intelectual. Muitas pessoas desconhecem ou confundem o papel da Igreja, exigindo dela algo que sua própria natureza não permite oferecer. Por ter essência divina e não humano-científica, seus dogmas não serão mudados por pesquisa de opinião, por assembléia de associados ou pela subjetiva vontade de um ou outro padre. É legítimo dela discordar, mas é equivocado dela exigir a mesma lógica de comportamento de um partido político, de uma empresa ou de um produto comercial. Foi de acordo com essa coerência, estranhamente desconhecida por muitos religiosos, que Joseph Ratzinger sempre procurou agir. Outras vezes a palavra "conservador" é transformada em um clichê, feito para dar às opiniões do novo Papa cores de fundamentalismo. Nesses casos, a crítica está tomada de preconceito. Primeiro, porque sequer deixaram-no agir. E, segundo, porque não há nenhum desvio ético na ação de um líder religioso que quer conservar um núcleo rígido de valores, aos quais, a propósito, ninguém está obrigado a aderir. São valores firmados nas Sagradas Escrituras e Bento XVI sabe que nem ele mesmo poderá mudá-los. Há, por fim, uma crítica motivada pela má-fé intelectual, que provém de setores que querem moldar a Igreja aos seus ideais políticos, deixando-a refém de instrumentos marxistas e transformando-a em motor da luta de classes. São os mesmos que querem uma Igreja sem norte, fundada numa doutrina que tenha o novo como valor moral e o relativo como fio ideológico condutor. Estes criticam Bento XVI porque preferiam uma Igreja sem Pastor, onde o Papa não apascentasse o rebanho, mas apenas se perdesse no meio dele. A propósito: quando soube que Leonardo Boff e Frei Beto não gostaram da escolha feita pelos cardeais, tive comigo uma certeza: teremos um grande Pontífice! O Papa não está imune a críticas no ambiente público, que é um espaço legítimo e democrático para os contrapontos. Contudo, vale alertar que desconhecimento, preconceito e má-fé intelectual podem estar ensejando uma leitura equivocada dessa característica de Bento XVI. Sim, ele é um conservador. Hosana! Disso depende a defesa do legado que Pedro recebeu de Jesus, cuja preservação cabe à Igreja. Nota do Editor: Cleber Benvegnú é advogado e escritor.
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