Algumas pessoas criticam, picham, esculhambam, mas no geral, quase ninguém dá nome aos bois. A audácia, a excitação, o frenesi e o frisson da valentia cívica de repente, não mais que de repente, é atenuada pelo medo de ter que responder em juízo por crime de calúnia e difamação. Aí fala-se no geral, especula-se, faz-se ilações malabaristas, recorre-se à covardia de filigranas astuciosas. Nada contra, seguro morreu de véio, até porque a valentia é uma forma de irresponsabilidade ou sintoma de loucura. Vou mais longe: a valentia é ficção. E ser bocão não é ser valente. Raramente se vê alguém dar nome aos bois, é uma raridade. Sim, admito, há exceções. Principalmente quando pinta no pedaço, ou seja, no âmago do indivíduo o ódio avassalador, ele pode levar o carinha a dar nome aos bois, ele pode até declinar os nomes de todos os bois de uma boiada. O ódio provoca a violenta emoção. O ódio, por assim dizer, tem um pouco de caráter.. No tempo da ditadura um único intelectual, que eu me lembro, deu nome aos bois. Foi Chico Buarque de Holanda, no seu romance “Fazenda Modelo”, ele colocou todos os nomes dos bois, se chamavam Jucenal, Lancelotte, Eloína e Bidu. Não me lembro de outro intelectual ou esquerdista que tenha dado nome aos bois.
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