A questão dos haitianos em Caxias
A forte presença de haitianos em Caxias do Sul é um debate que divide opiniões e gera reflexões. Observando as conversas nos transportes coletivos, nas ruas, redes sociais e de pessoas do próprio convívio me deparo com comentários fortes cheios de indignação e sensação de incômodo: “vieram roubar nossos empregos”, “são vagabundos” e o pior de todos “estão enfeiando a nossa cidade”. Não posso deixar de abrir aspas, pois assim como eu, também existem pessoas que possuem um olhar diferente para questão. A frase “Como ser o outro na terra do eu” é um convite para que todos nós caxienses possamos nos colocar no lugar desse outro que, por conta das condições econômicas terríveis e de um terremoto que provocou a morte de mais de 300 mil pessoas no Haiti, deixou seu país, sua família e sua cultura, para estar aqui hoje sofrendo com vários problemas de adaptação como comunicação, preconceito e discriminação, tudo em busca de melhores condições de vida. Caxias do Sul é uma cidade formada por imigrantes e conhecida por sua diversidade. Dentro desse contexto porque tanta indignação com imigrantes haitianos que, assim como os italianos e os alemães, vieram em busca de melhores condições e possuem uma cultura riquíssima? Será que o problema seria a cor da pele? São pessoas que estão dispostas a trabalhar, são disciplinadas e inteligentes, podendo contribuir fortemente no desenvolvimento econômico e cultural da nossa região. Porém, precisamos de um planejamento estrutural para que os mesmos sejam bem recebidos e possam viver em condições dignas, com oportunidades de crescimento profissional, e inclusive qualificação e capacitação, já que muitos deles possuem ensino médio completo e outros já trazem uma formação superior no currículo. Que haja um preparo para que eles sejam vistos como integrantes dessa nova configuração social. O pensamento pode ser um pouco utópico, mas vale a pena ser analisado. Nota do Editor: Juciany Paula da Silva Alves, especialista em Sociologia, Educação e Cidadania, e professora no curso de Serviço Social da Faculdade Anhanguera de Caxias.
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